sexta-feira, 6 de julho de 2012

Parece Piada



Por Paolo Gutiérrez*


Quando eu estudava na oitava série, me contaram uma piada cretina, na linha daquelas piadas remetendo a sexo da série de anedotas populares do Bocais - quem já estudou literatura para vestibular ou foi criança em Salvador nos anos 90 conhece o Bocais. Enfim, dizia a anedota que 3 adolescentes se reuníam no fim da tarde todos os dias para assistir filmes pornô na casa de um deles, aproveitando a ausência da mãe. Chegou uma semana em que um dos cabeludos na mão deixou de ir para as sessões de afirmação da puberdade masculina. Frente ao sumiço, os dois amigos que continuaram vendo os filmes de arte cinematográfica apuradíssima (falando sarcásticamente) ficaram intrigados. 

Combinaram que um deles iria até a casa do colega para saber o porquê do sumiço.
Quando chegou lá, os amigos se cumprimentaram e aí um interpelou o outro meio que fazendo gozação, "porque tu sumiu, Bocais? Joãozinho está com uns filmes da hora lá e tu nem deu mais as caras. Virou viado foi?". Nisso Bocais respondeu: "Você tem um aquário em casa?". O amigo respondeu que não e Bocais prosseguiu: "Olha, eu sei que a gente é homem e assitir putaria é coisa típica de macho, mas agora eu estou substituindo essa necessidade de afirmação com o cuidado a um aquário". Perplexo, o colega interrogou Bocais sobre essa estranha maneira de afirmação da masculinidade, ao que Bocais lhe respondeu: "se eu cuido de um aquário, é porque eu gosto da natureza, não é?". O amigo de Bocais respondeu afirmativamente com a testa franzida, ainda sem entender. Bocais prosseguiu: "Se eu gosto da natureza, então eu gosto de tudo que é natural. O sexo entre o homem e a mulher não é uma coisa da natureza? Então, se eu gosto da natureza e o sexo é uma coisa natural, significa que eu gosto de mulher e que portanto não sou viado. Você tem um aquário em casa? Se não tem devia ter". O amigo de Bocais foi saindo meio sem jeito respondendo que tinha um aquário em casa "mais ou menos".

Na semana seguinte, o Joãozinho assistiu à nova remessa de filmes que tinha adquirido sozinho. Nem Bocais e nem o outro amigo compareceram à sessão. Intrigado, Joãozinho foi à casa do colega, perguntar o porquê dele e de Bocais terem sumido. Ao chegar na casa do amigo a mesma coisa. Os dois se cumprimentam e tal, e aí Joãozinho pergunta: "pô, Pedrinho! O que houve? Você e Bocais sumiram? O que aconteceu?". Nisso Pedrinho colocou a mão no ombro de Joãozinho e perguntou: "Você tem um aquário em casa, Joãozinho?". Joãozinho desconfiado responde: "não, por que?", ao que Pedrinho lhe diz: "Então você é viado!". 

A lógica associativa desse chiste está acontecendo em Salvador dentro do movimento grevista dos professores da rede estadual. A lógica é a seguinte: nós professores estamos descontentes com o governo porque não nos dá o aumento como queremos. O governador é Wagner. Nós odiamos Wagner porque promove o arrocho salarial. Wagner é do PT. Se Wagner é do PT, então o PT também é favorável ao arrocho salarial e nós odiamos o PT também. O deputado federal Nelson Pelegrino é do PT. Se Pelegrino é do PT, que é o partido de Wagner, então ele também pensa igual a Wagner, também é favorável ao arrocho salarial, portanto nós também o odiamos Pelegrino e ele não serve para gerir Salvador por esse motivo. Aliás, assim sendo, qualquer candidato do PT é favorável ao arrocho salarial só porque é do partido de Wagner. E já que odiamos Wagner, odiamos seu partido, passamos a odiar todos os candidatos do PT. Por esse motivo (porque não tem aquário em casa) o PT é um grande satã que tem que ser extinto da Bahia, porque nós odiamos Wagner e porque o PT é o partido dele. 

Sinceramente, isso tudo parece uma piada...


Paolo Gutiérrez é jornalista formado pela UESB

Nenhum comentário: