quinta-feira, 19 de abril de 2012

Quem é Mário Kértesz?



Essa rememoração é importante, agora que o dito cujo está pretendendo retornar

à Prefeitura.

Em suas duas gestões como prefeito, entre 1979 e 1981 e entre 1986 e 1988, Mário
Kértesz tinha como aliado seu então Chefe do Gabinete Civil, Roberto Pinho.
Juntos, Pinho e Kértesz criaram rombos financeiros gigantescos e se enriqueceram
às custas do dinheiro público.

Kértesz surgiu como um dos filhotes do então prefeito de Salvador, Antônio
Carlos Magalhães, no final dos anos 60, integrando sua equipe. Tendo ACM como
padrinho, Kértesz se tornou prefeito biônico (nomeado por governadores que eram
nomeados pelo regime militar; o Brasil vivia uma ditadura), e no meio do caminho
ACM e Kértesz brigaram e este foi demitido por aquele. Em 1982, numa de suas
entrevistas, ACM chamou Mário de judeu fedorento.

Mário Kértesz ressurgiu em 1985 com uma campanha contra seu antigo padrinho. Se
elegeu e tentou impressionar a opinião pública como força oposicionista da
capital baiana, chegando, neste mandato, a nomear o popular cantor Gilberto Gil
como seu Secretário da Cultura. Nos bastidores, Kértesz e Pinho criaram as
empresas Renurb (Companhia de Renovação Urbana) e Faec (Fábrica de Equipamentos
Comunitários). São duas autarquias fantasmas, presididas por Pinho.

A armação veio quando Kértesz e Pinho, juntamente com o então dono das
construtoras Sérvia e Engepar, Thales Nunes Sarmento, decidiram desviar recursos
do Fundo de Participação dos Municípios do Governo Federal e do ICMS (Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) para seus patrimônios pessoais.

Esses recursos, destinados a Salvador, eram solicitados sob o pretexto de
supostas dívidas contraído pela prefeitura do município. Muitas obras de grande
envergadura, como o projeto Transporte de Massa de Salvador (TMS), ancorado pelo
corredor Bonocô - Iguatemi, eram paralisadas ainda em andamento,
propositalmente, para justificar as dívidas.

Junto a essa estratégia, Kértesz e Pinho criaram artifícios legais que
permitissem que empreiteiras e bancos pudessem sacar 100%, diretamente da boca
do cofre, das verbas enviadas pelo FPM e ICMS à capital baiana. As empresas de
Thales Sarmento pagavam antecipado à Renurb e Faec por serviços e equipamentos
que estas posteriormente declaravam ser inviável realizar ou entregar.

Kértesz anunciava a suposta dívida, e delegava às empreiteiras os contratos que
lhe autorizavam o bloqueio e o saque das verbas municipais a partir de 1o. de
janeiro de 1989. Muitos desses contratos eram assinados no dia anterior à saída
de Kértesz da prefeitura. O seqüestro de verbas da prefeitura atravessou duas
gestões (Fernando José e Lídice da Matta), e só foi derrubado por ação movida
por Antônio Imbassahy, já como prefeito de Salvador, em 1997. Imbassahy adaptou
e concluiu obras deixadas incompletas por Mário Kértesz.

A corrupção de Kértesz e Pinho se arrasta por mais de dez anos na Justiça. A
denúncia delas pelo jornalista free lancer Fernando Conceição (hoje editor da
Província da Bahia), fez Kértesz decair na trajetória política. Com o desvio de
verbas, Kértesz adquiriu as rádios Clube AM, Itaparica FM e Cidade FM, comprou
ações na TV Bandeirantes local e, após reatar relações políticas com ACM, foi
nomeado último interventor do Jornal da Bahia, que sofria perseguição política
por parte de Magalhães. Deste patrimônio, a Itaparica FM foi vendida, as ações
da TV Bandeirantes foram canceladas mediante denúncia da revista Veja, e o
Jornal da Bahia faliu, não nessa ordem.

A atuação de Kértesz não foi devidamente analisada por João Carlos Teixeira
Gomes no livro Memórias das Trevas nem por Francisco Alexandria, no livro Dom
Carlos Corleone. Preocupados em denunciar o mandante do assassinato do Jornal da
Bahia, eles erraram ao poupar seu executor, timidamente citado em seus livros.