quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A psicologia de massa do fascismo à brasileira


Há tempos alerto para a campanha de ódio que o pacto mídia-FHC estava plantando no jogo político brasileiro.

O momento é dos mais delicados. O país passa por profundos processos de transformação, com a entrada de milhões de pessoas no mercado de consumo e político. Pela primeira vez na história, abre-se espaço para um mercado de consumo de massa capaz de lançar o país na primeira divisão da economia mundial

Esses movimentos foram essenciais na construção de outras nações, mas sempre vieram acompanhados de tensões, conflitos, entre os que emergem buscando espaço, e os já estabelecidos impondo resistências.

Em outros países, essas tensões descambaram para guerras, como a da Secessão norte-americana, ou para movimentos totalitários, como o fascismo nos anos 20 na Europa.
Nos últimos anos, parecia que Lula completaria a travessia para o novo modelo reduzindo substancialmente os atritos. O reconhecimento do exterior ajudou a aplainar o pesado preconceito da classe média acuada. A estratégia política de juntar todas as peças – de multinacionais a pequenas empresas, do agronegócio à agricultura familiar, do mercado aos movimentos sociais – permitiu uma síntese admirável do novo país. O terrorismo midiático, levantando fantasmas com o MST, Bolívia, Venezuela, Cuba e outras bobagens, não passava de jogo de cena, no qual nem a própria mídia acreditava.

À falta de um projeto de país, esgotado o modelo no qual se escudou, FHC – seguido por seu discípulo José Serra – passou a apostar tudo na radicalização. Ajudou a referendar a idéia da república sindicalista, a espalhar rumores sobre tendências totalitárias de Lula, mesmo sabendo que tais temores eram infundados.

Em ambientes mais sérios do que nas entrevistas políticas aos jornais, o sociólogo FHC não endossava as afirmações irresponsáveis do político FHC.

Mas as sementes do ódio frutificaram. E agora explodem em sua plenitude, misturando a exploração dos preconceitos da classe média com o da religiosidade das classes mais simples de um candidato que, por muitos anos, parecia ser a encarnação do Brasil moderno e hoje representa o oportunismo mais deslavado da moderna história política brasileira.

O fascismo à brasileira

Se alguém pretende desenvolver alguma tese nova sobre a psicologia de massa do fascismo, no Brasil, aproveite. Nessas eleições, o clima que envolve algumas camadas da sociedade é o laboratório mais completo – e com acompanhamento online - de como é possível inculcar ódio, superstição e intolerância em classes sociais das mais variadas no Brasil urbano – supostamente o lado moderno da sociedade.

Dia desses, um pai relatou um caso de bullying com a filha, quando se declarou a favor de Dilma.

Em São Paulo esse clima está generalizado. Nos contatos com familiares, nesses feriados, recebi relatos de um sentimento difuso de ódio no ar como há muito tempo não se via, provavelmente nem na campanha do impeachment de Collor, talvez apenas em 1964, período em que amigos dedavam amigos e os piores sentimentos vinham à tona, da pequena cidade do interior à grande metrópole.

Agora, esse ódio não está poupando nenhum setor. É figadal, ostensivo, irracional, não se curvando a argumentos ou ponderações.
Minhas filhas menores freqüentam uma escola liberal, que estimula a tolerância em todos os níveis. Os relatos que me trazem é que qualquer opinião que não seja contra Dilma provoca o isolamento da colega. Outro pai de aluna do Vera Cruz me diz que as coleguinhas afirmam no recreio que Dilma é assassina.

Na empresa em que trabalha outra filha, toda a média gerência é furiosamente anti-Dilma. No primeiro turno, ela anunciou seu voto em Marina e foi cercada por colegas indignados. O mesmo ocorre no ambiente de trabalho de outra filha.

No domingo fui visitar uma tia na Vila Maria. O mesmo sentimento dos antidilmistas, virulento, agressivo, intimidador. Um amigo banqueiro ficou surpreso ao entrar no seu banco, na segunda, é captar as reações dos funcionários ao debate da Band.

A construção do ódio

Na base do ódio um trabalho da mídia de massa de martelar diariamente a história das duas caras, a guerrilha, o terrorismo, a ameaça de que sem Lula ela entregaria o país ao demonizado José Dirceu. Depois, o episódio da Erenice abrindo as comportas do que foi plantado.

Os desdobramentos são imprevisíveis e transcendem o processo eleitoral. A irresponsabilidade da mídia de massa e de um candidato de uma ambição sem limites conseguiu introjetar na sociedade brasileira uma intolerância que, em outros tempos, se resolvia com golpes de Estado. Agora, não, mas será um veneno violento que afetará o jogo político posterior, seja quem for o vencedor.

Que país sairá dessas eleições?, até desanima imaginar.

Mas demonstra cabalmente as dificuldades embutidas em qualquer espasmo de modernização brasileira, explica as raízes do subdesenvolvimento, a resistência história a qualquer processo de modernização. Não é a herança portuguesa. É a escassez de homens públicos de fôlego com responsabilidade institucional sobre o país. É a comprovação de porque o país sempre ficou para trás, abortou seus melhores momentos de modernização, apequenou-se nos momentos cruciais, cedendo a um vale-tudo sem projeto, uma guerra sem honra.

Seria interessante que o maior especialista da era da Internet, o espanhol Manuel Castells, em uma próxima vinda ao Brasil, convidado por seu amigo Fernando Henrique Cardoso, possa escapar da programação do Instituto FHC para entender um pouco melhor a irresponsabilidade, o egocentrismo absurdo que levou um ex-presidente a abrir mão da biografia por um último espasmo de poder. Sem se importar com o preço que o país poderia pagar.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Homenagem à militância



"Que seria deste mundo sem militantes?
Como seria a condição humana se não houvesse militantes?
Não porque os militantes sejam perfeitos, porque tenham sempre a razão, porque sejam super-homens e não se equivoquem. Não é isso.
É que os militantes não vem para buscar o seu, vem entregar a alma por um punhado de sonhos.
Ao fim e ao cabo, o progresso da condição humana depende fundamentalmente de que exista gente que se sinta feliz em gastar sua vida a serviço do progresso humano.
Ser militante não é carregar uma cruz de sacrifício.
É viver a glória interior de lutar pela liberdade em seu sentido transcendente".

Lula faz alerta contra boatos na campanha

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Viva o povo brasileiro!

Por : Emir Sader

Massacrado pelos monopólios da velha mídia, desinformado sobre o país, vitima das mentiras reiteradas da oposição midiática, o povo brasileiro demonstra nestas eleições um grau de consciência política e de maturidade cívica exemplares. Consegue distinguir o essencial do secundário, opta pela prioridade das políticas sociais sobre a absolutização do ajuste fiscal, condena os políticos responsáveis pelos governos desastrosos do passado, opta pelo Estado como indutor do crescimento e da distribuição de renda.

Reconhece em Lula e na Dilma os principais responsáveis pelas mudanças positivas que o pais vive, execra a FHC, a Serra, à Globo e aos seus aliados da velha mídia, não dando bola para seus factóides e deixando-os na solidão do seu golpismo. O povo reconhece os avanços principais que o país teve, assiste os programas da Dilma na TV, comparece aos comícios de Lula e da Dilma, e se reconhece, sabe que tudo o que se mostra e se diz reflete as mudanças de vida que estão vivendo no seu mundo sofrido e até aqui abandonado.

Não deram ouvidos para as infâmias da oposição e sua velha mídia, de preconceitos contra as mulheres – que hoje majoritariamente também preferem Dilma -, contra os lutadores contra a ditadura, contra os movimentos sociais e os militantes políticos, que saem todos engrandecidos com o apoio popular.

Derrotados saem a Globo, a Veja, a FSP (Força Serra Presidente), o Estadão e todos os arautos do golpismo, do velho Brasil, das oligarquias tradicionais, com seus métodos de manipulação da opinião pública e de desprezo e discriminação pelo povo e por tudo o que é popular.

O povo percebe a diferença entre a demagogia opositora, não dá ouvidos a quem pretende ser eqüidistante dos dois campos em luta, relega ao ostracismo os que pretendem que nada mudou no Brasil. O povo não é bobo, encontra em Lula e na Dilma as vertentes do futuro, reconhecem a valorização do Brasil, sentem a auto-estima revigorada, superam o desalento, voltam a acreditar em si mesmos e no país.

Por isso o povo impõe a mais acachapante derrota às elites tradicionais, com sua velha imprensa, seus políticos caducos, sua demagogia superada. Derrota os caciques tradicionais que os enganaram durante tanto tempo, mandam FHC para o exílio e Serra para a aposentadoria, os tucanos para o museu da história.

“Esse povo de quem fui escravo, não será mais escravo de ninguém”, pregava e previa o Getúlio na sua Carta Testamento. Quem não reconhece esse povo, que começa a construir sua soberania, sua emancipação, seu destino próprio, suas formas solidárias de vida, está de costas para o país e merece ser derrotado fragorosamente nas eleições deste ano.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

ESTIMATIVAS PARA 3 DE OUTUBRO

Por Marcos Coimbra

Do jeito como vão, as eleições presidenciais não devem nos reservar surpresas de reta final. Ao contrário. Salvo algo inusitado, elas logo adquirirão suas feições definitivas, talvez antes que cheguemos ao cabo da primeira quinzena de veiculação da propaganda eleitoral na tevê e no rádio.

Por várias razões, a provável vitória de Dilma Rousseff- em 3 de outubro será saudada como um resultado extraordinário. Ao que tudo indica, ela alcançará uma coisa que Lula não conseguiu nem quando disputou sua reeleição: vencer no primeiro turno. Não que levar a melhor dessa maneira seja fundamental, pois o próprio Lula mostrou ser possível ganhar apenas no segundo e se tornar o presidente mais querido de nossa história.

É preciso lembrar que Lula não a obteve em 2006 por pouco, apesar de sua imagem ainda sangrar com as feridas abertas pelo mensalão. Ele havia chegado aos últimos dias daquele setembro com vantagem suficiente para resolver tudo ali mesmo e só a perdeu quando sofreu um ataque sem precedentes de nossa “grande imprensa”.

Aproveitando-se do episódio dos “aloprados”, fazendo um carnaval de sua ausência no debate na Globo, ela balançou um eleitorado ainda traumatizado pelas denúncias de 2005. Lula deixou de vencer em 1º de outubro, o que, no fim das contas, terminou sendo ótimo para ele. No segundo turno, a vasta maioria da população concluiu o processo de sua absolvição, abrindo caminho para o que vimos de 2007 em diante: ele nunca mais caiu na aprovação popular e passou a bater um recorde de popularidade atrás de outro.

Com as pesquisas de agora, é difícil estimar com precisão quanto Dilma Rousseff poderá ter no voto válido. Não é impossível que alcance os 60% que Lula fez, no segundo turno, na última eleição. E ninguém estranharia se ela ultrapassasse os 54% que Fernando Henrique obteve em 1994, com o Plano Real e tudo.

Para fazer essas contas, é preciso levar em consideração diversos fatores. Um é quanto Marina Silva poderá alcançar, a partir dos cerca de 8% que tem hoje. Há quem imagine que ela ainda cresça, apesar do mísero tempo de televisão de que disporá. Com uma única inserção em horário nobre por semana e um tempo de programa praticamente idêntico ao dos candidatos pequenos, não é uma perspectiva fácil.

O segundo fator é o desempenho dos candidatos dos partidos menores, dos quais o mais relevante é Plínio de Arruda Sampaio. Muito mais que seus congêneres de extrema esquerda, ele pode se transformar em opção para a parcela de eleitores que vota de forma mais ideo-lógica ou que apenas quer expressar seu “protesto”. Embora as pesquisas a respeito desse tipo de eleitor não sejam conclusivas, isso pode, talvez, ocorrer em detrimento de Marina: à medida que Plínio subir, ela encolherá. O que não afetaria, portanto, o tamanho do eleitorado que não votará em Dilma ou Serra.

Para, então, projetar o tamanho da possível vitória de Dilma, o relevante é saber o piso de Serra. Se ele cairá, considerando seu patamar atual, próximo a 30%.

Só o mais otimista de seus partidários acredita (de verdade) que a presença de Lula na televisão será inútil para Dilma e que seu apelo direto ao eleitor não produzirá qualquer efeito. Ou seja, ninguém acredita que ela tenha já atingido seu teto, com os 45% que tem hoje.

O voto em Serra tem, no entanto, três fundamentos, todos, aparentemente, sólidos: 1. É um político respeitado no maior estado da federação, que governou, até outro dia, com larga aprovação. 2. Representa o eleitorado antipetista,- aquele que pode até tolerar Lula, mas que nunca votou e nunca votará no PT. 3. Tem uma imagem nacional positiva, conquistada ao longo da vida e, especialmente, quando foi ministro da Saúde.

De São Paulo deve sair com 45% dos votos, o que equivale a 10% do País. O antipetismo lhe dá mais cerca de 10% e a admiração por sua biografia no restante do eleitorado, outro tanto (tudo em números redondos).
Se essas contas estiverem corretas, Serra teria pouco a perder nas próximas semanas. Em outras palavras, já estaria, agora, perto de seu mínimo.

Fica simples calcular o resultado que, hoje, parece mais provável para 3 de outubro: Serra, 30%; Marina e os pequenos, 10%; brancos e nulos, entre 8% e 10% (considerando o que foram em 2006 e 2002, depois da universalização da urna eletrônica); Dilma, entre 50% e um pouco menos que 55%. Nos válidos: Marina (e os pequenos) 11%, Serra 33%, Dilma 56%.

Talvez seja arriscado fazer essas especulações. Talvez não, considerando quão previsível está sendo esta eleição.

Fonte: Carta Capital.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Os 50 milhões de sonhos

Por Marta Rodrigues*

Um governo pode construir estradas, pontes, hospitais. Mas a melhor obra que pode deixar à população é a capacidade de sonhar. Um país nunca vai se desenvolver plenamente enquanto sua juventude não puder projetar conquistas importantes para sua vida.

Superamos o tempo em que o jovem era visto como problema, mas os conservadores ainda pregam a repressão policial, o toque de recolher, a redução da maioridade penal, o fim das ações afirmativas. Vivemos agora um cenário promissor: as vagas nas universidades federais dobraram (cotas em sua maioria). O ProUni ofertou mais de 700 mil bolsas. As escolas técnicas foram retomadas, só na Bahia foram 42 mil matriculados. Ainda, o ProJovem, as Praças da Juventude, os Pontos de Cultura, os Centros Digitais.

Apesar disso, a juventude precisa de mais. O jovem pobre precisa de igualdade de oportunidades ao que nasceu nas classes média e alta. A perpetuação geracional da pobreza se dá justamente no momento em que o jovem abandonaos estudos para ajudar nas finanças da casa. Adentrando precocemente no mercado de trabalho, ele o faz em postos menos qualificados, influenciando toda sua vida futura. Enquanto isso, os filhos ricos se preparam para assumir cargos mais relevantes.

O Brasil precisa de um grande programa que mantenha os jovens estudando, aumente sua qualificação e retarde a entrada no mercado. Precisamos de um Bolsa-Jovem, na mesma proporção do Bolsa-Família. Não mais um programa de transferência de renda, mas a porta de saída para este tipo de política.

Articulada com melhoria da educação e políticas de primeiro emprego, isto significa construir um novo padrão social, em que o desenvolvimento seja realmente para todos. Um país que pretende ser a 5ª economia do mundo não pode caminhar em outro sentido.

O dia 12 de agosto iniciou o Ano Internacional da Juventude da ONU. Para celebrar e garantir a execução dos objetivos do milênio, temos de investir na geração que representa ¼ da população, para termos jovens vivendo num Brasil inclusivo, autônomo e cheio de sonhos.

Marta Rodrigues é Vereadora pelo PT - Salvador(BA) martarodrigues@cms.ba.gov.br

domingo, 8 de agosto de 2010

A realidade do ensino superior privado na Bahia

Por David Pedreira Machado*


Existem duas visões a respeito das instituições de ensino superior privado na Bahia: uma para quem não está inserido no sistema e outra para quem está, no caso os alunos. Os não integrantes, normalmente, pensam que os problemas são mínimos e podem ser resolvidos rapidamente e de forma simplória. Na realidade esta situação é bem diferente, mas a maioria dos estudantes sofre com situações absurdas, como preços exorbitantes, sem contar com taxas abusivas para todo tipo de serviço, redução das cargas horárias dos cursos, falta de estruturas práticas do curso (ex: falta de materiais básicos para a prática nas clínicas), falta de incentivo à monitoria, bibliotecas defasadas, etc.


A grande parte dos donos das faculdades de ensino superior da rede privada na Bahia pensa apenas no lucro, esquecendo de gastar com pesquisa e extensão, com incentivos aos monitores, capacitação dos funcionários e qualificação dos professores, ações estas que significariam um investimento passível de retorno em qualidade da instituição, elevará o seu conceito no MEC e conseqüentemente trará mais estudantes


Os programas que incentivam o ingresso ao ensino superior privado são extremamente progressistas e representam um avanço na educação do país com a inserção de milhares de pessoas no ensino superior, pessoas estas que normalmente não tiveram condições de inserção no meio acadêmico por diversas razões (déficit na educação básica, concorrência desleal com alunos oriundos do ensino médio privado, etc.). Os principais programas são PROUNI e FIES.


O PROUNI (Programa Universidade para Todos) é um programa criado pelo Governo Federal no ano de 2004, pelo Ministro da Educação desta época, Tarso Genro. Este programa oferece bolsas de estudo (parciais ou integrais) em instituições de ensino superior privadas nos cursos de graduação, para aqueles que não têm diploma de nível superior. A curto e médio prazo, o PROUNI é bastante benéfico para a sociedade, pois aqueles que ingressam no ensino superior pelo programa, geralmente, são de baixa renda. Com isso, a qualificação destes diminui consideravelmente a desigualdade social, a economia do país cresce, a taxa de desemprego diminui, enfim, o país sai do subdesenvolvimento e torna-se um país desenvolvido de forma justa e igualitária. Porém, com investimentos paralelos do governo federal na educação de base e nas universidades públicas, futuramente não será mais necessário o investimento do governo federal no ensino privado. Sendo assim, a longo prazo, o PROUNI pode trazer sérios danos ao país, uma vez que os investimentos destinados às instituições privadas poderiam ser destinados às instituições públicas, qualificando professores, construindo novas universidades públicas, criando mais vagas e melhorando a infraestrutura daquelas que já existem.


Outro programa de incentivo ao ingresso no ensino superior é o FIES (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior). Criado pelo Governo FHC em 1999, este programa é destinado a financiar a graduação no ensino superior de estudantes que não tem condições de arcar com os custos da mesma. O FIES sofreu duras críticas na sua implementação por ter taxas abusivas de juros que poderiam chegar até 9% ao ano, por ter carência para sua implementação, bem como pela falta de transparência da Caixa Econômica, acusado de cobrar juros sobre juros desde o período que o financiamento é concedido até o momento em que o aluno começa a pagar o que praticamente dobra ou triplica o valor do financiamento, como afirma o Movimento FIES Justo, movimento Nacional que luta por aplicações mais justas no financiamento estudantil. Com o novo FIES, implementado em 2010 pelo Ministro da Educação Fernando Haddad, o programa se tornou um dos melhores meios de financiamento estudantil do mundo, pois além da taxa de juros cair para 3,4% ao ano, o estudante poderá requerer o FIES a qualquer momento, as parcelas de financiamento terão valores fixos, o período de pagamento poderá ser de até 3 vezes a duração do curso mais 12 meses, dentre outros benefícios. Apesar dos avanços o estudante ainda enfrenta problemas para se cadastrar no FIES, pois é necessário que o fiador receba um salário que equivale ao dobro da mensalidade (ex: a mensalidade custa R$ 800, portanto meu fiador terá que receber no mínimo R$ 1600), o que é inconcebível para um programa que visa a inclusão social, já que, segundo dados do Dieese, 95% da população brasileira ganha até R$ 900.


Portanto concluir que a vida dos estudantes de instituições privadas melhorou de forma significativa nos últimos sete anos de governo Lula, porém é preciso reformular e ampliar esses programas para maioria das pessoas que sonham em ingressar no ensino superior, para que possam alcançar uma melhoria de vida. É preciso também uma maior fiscalização do MEC nas instituições, uma vez que estas desrespeitam as diretrizes estabelecidas pelo próprio órgão, e sobretudo é preciso que os estudantes saibam e exijam seus direitos, e se unam em prol de melhorias para eles próprios.


David Pedreira Machado é estudante de Direito da Faculdade Unime, diretor do DCE/UNIME, membro do coletivo Ousar ser Diferente e militante do PT-BA

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Serra confunde programas e não explica privatizações

O primeiro debate entre os presidenciáveis teve, entre suas principais marcas, o desconhecimento revelado por José Serra (PSDB) sobre o programa Luz para Todos e sobre ações do Ministério da Educação para a alfabetização de crianças excepcionais.

Provocado por Dilma Rousseff (PT) a avaliar os investimentos na indústria naval e os benefícios do Luz para Todos, Serra perguntou duas vezes o nome do programa que está garantindo energia elétrica à população pobre da zona rural. Informado do que se tratava, disse que a iniciativa do Governo Lula era uma continuação do programa Luz no Campo, do Governo Fernando Henrique Cardoso, que levou iluminação a “umas 500.000 famílias”. Dilma o corrigiu:

“O Luz para Todos é completamente diferente do Luz no Campo, que exigia que os beneficiários do programa pagassem pela iluminação. Por isso, só conseguiram beneficiar 500.000 famílias em 8 anos”, afirmou Dilma, que mostrou o que fez o governo atual.

“Quando chegamos, o déficit de pessoas sem energia elétrica era de 2 milhões, e agora esse número foi atingido.”

O segundo engano de Serra foi quando insinuou que as Associações dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAES) perderam subsídios que o Ministério da Educação dava para o transporte das crianças à escola. Dilma explicou que os recursos da APAE não foram cancelados, mas passaram a ser distribuídos pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).

PRIVATIZAÇÕES

Ao comentar como trataria o patrimônio público, Serra evitou detalhar o que fará.

“Vou valorizar o patrimônio público, usando-o bem”, limitou-se a dizer. Em seguida, afirmou que, apesar das críticas às privatizações do Governo FHC, nada foi reestatizado no Governo Lula.

“É porque nós respeitamos contratos”, respondeu Dilma, que questionou o tucano sobre outro aspecto do processo de privatizações.

“Não entendo como pode alguém obter R$ 100 bilhões pela venda do patrimônio público e deixar crescer a dívida pública – de R$ 30 bilhões para R$ 70 bilhões. Como pode essa mágica financeira?” questionou a petista. Serra não respondeu.

EMPREGOS

Dilma também questionou Serra sobre a forma que ele usaria, se fosse eleito, para assegurar a criação de 14 milhões de empregos com carteira assinada, como ocorreu durante o Governo Lula.

“Não faço política olhando no retrovisor”, esquivou-se Serra.

“Não acho prudente que se esqueça o passado”, devolveu a petista acrescentando que o crescimento do emprego se tornou possível, principalmente, pela forte atuação do governo em programas de inclusão social, como o Bolsa Família.

SAÚDE

Outro ponto de divergência entre Serra e Dilma foi a realização de mutirões da saúde. Para o tucano, são fundamentais. Já Dilma ponderou que eles constituem uma medida de emergência.

“Mutirão não pode ser nossa característica na política de saúde”, disse Dilma, que citou a ampliação das cirurgias eletivas de catarata na rede pública de saúde. A presidenciável petista também prometeu investir fortemente no Sistema Único de Saúde (SUS) como forma de acrescentar rapidez e qualidade à rede pública.

INDÚSTRIA NAVAL

O próprio Serra elogiou o estímulo oferecido pelo Governo Lula à indústria naval, mas pediu mais investimentos. Foi quando Dilma lembrou que o setor estava sucateado e que “a política do governo anterior pra indústria naval era sondar navios de Cingapura e Coréia, em vez de privilegiar a indústria nacional”.


Via: Brasilia Confidencial

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Serra e Índio: qual o apito?

Ao afirmar que “o PT é chavista, que mantém relação com as Farc, e prima por desrespeitar direitos humanos”, Serra incorporou a visão de mundo da nova direita. Um estrato que, ameaçado pela abrangente emergência social promovida nos últimos oito anos, destila raiva e ressentimento.

E finalmente descortinou-se – sob os estarrecidos olhares dos eternos ingênuos – a verdade que todos, há muito tempo, já conheciam. A fluidez do processo político brasileiro, suas clivagens e crises que podem decorrer da percepção de resultados eleitorais adversos, levaram o candidato José Serra a revelar sua verdadeira natureza de classe. Reativando um surrado discurso udenista, o ex-presidente da UNE passou a endossar o protofascismo de sua base de sustentação. Mais que assegurar a adesão de eleitores da direita, pôs por terra uma tese que ganhava espaço na grande mídia e em conhecidos círculos acadêmicos.

A caracterização simplória do cenário político definia as próximas eleições mais como uma disputa por espaço eleitoral do que como polarização ideológica de projeto de país. Ressurgia, com endosso de algumas lideranças esquerdistas, a visão dos dois partidos hegemônicos (PT e PSDB) como agrupamentos politicamente inautênticos, sem verdadeiras raízes na estrutura social e sem diferenciação ideológicas nítida. A distinção se daria apenas na maior ou menor capacidade de conseguir recursos, ganhos incrementais que ignoram modificações substantivas nos programas públicos. Nada mais falacioso. Nada mais revelador da fragilidade analítica dos que vêem no governo Lula uma continuidade pura e simples da gestão FHC. As sobejas dificuldades do candidato da direita, sua necessidade de marcar posição, desmentiram os estudos de encomenda.

Ao afirmar que “o PT é chavista, que mantém relação com as Farc, e prima por desrespeitar direitos humanos”, Serra incorporou a visão de mundo da nova direita. Um estrato que, ameaçado pela abrangente emergência social promovida nos últimos oito anos, destila raiva e ressentimento; típicos da intolerância retórica que o distingue. Impossibilitada de construir sua identidade pela inserção no processo produtivo, essa parcela da classe média forja a auto-imagem por diferenciação das classes fundamentais. Sabe que não é o que mira, mas não sobrevive sem o sentimento subjetivo de pertencer a uma elite idealizada. É nesse aspecto da nossa estrutura social que Índio e Serra passam a querer o mesmo apito. E a falar o mesmo dialeto.

As diatribes recentes do candidato tucano têm uma imensa serventia para os setores progressistas. Ao criticar as relações do governo petista com países sul-americanos e com a China, assegurando que “estamos fazendo filantropia com Paraguai e Uruguai e concessões excessivas ao país asiático”, Serra sinaliza que, no caso de uma eventual vitória em outubro, retomaria a política externa de subalternidade aos interesses estadunidenses. A volta da "diplomacia de pé de meia” não é uma questão menor nem uma mudança de rota desprezível.

A própria capacidade de o país de decidir soberanamente sobre seus destinos estará novamente em jogo. A orientação tendente a beneficiar o diálogo com os países vizinhos, superando assimetrias e promovendo uma autêntica integração, para ter continuidade e ser aprofundada, não pode conviver com a submissão vergonhosa ao imperialismo. O que está em jogo, neste momento, é a verdadeira segurança nacional.

Os inimigos dos reais interesses do país, ao contrário do que pretende a oposição e seu braço midiático, não são os governos de Evo Morales e de Hugo Chávez, a quem Serra, repetindo Uribe, acusa de "abrigar as Farc". O que ameaça a nação brasileira é a humilhante prostração aos ditames de Washington. Em um país com instituições minimamente democráticas, Serra e seu vice têm como lugar certo a lata de lixo da história.

Quanto mais nos aproximamos de outubro, aumenta a urgência de ampla mobilização dos trabalhadores e demais setores populares em defesa das suas conquistas sociais e econômicas, alcançadas nos dois mandatos do presidente Lula. É bom lembrar que não se deve esperar da nova direita, que sustenta Serra, uma análise serena de um governo popular. Para ela é imperdoável que tenha havido um período tão rico em cidadania, tão pródigo em participação nos debates sobre problemas nacionais.

Jonathan Swift escreveu, certa vez, que se pode identificar um gênio pelo número de imbecis que lhe atravancam o caminho. Se o criador de Gulliver tiver razão, Lula e sua candidata, a ex-ministra Dilma Roussef, têm excelentes títulos para exigir que lhes reconheçam a genialidade. Com inveja, com rancor, com incompreensão, mobiliza-se contra eles o que há de pior na sociedade brasileira. E ainda há quem não veja diferença entre os atores.


Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil

domingo, 1 de agosto de 2010

Serra é o candidato da direita perversa e burra

Quem vai perder?

Márcia Denser, no Congresso em Foco

Ao que tudo indica – e todas as pesquisas apontam nesta direção – Dilma deve ganhar a disputa presidencial, até porque agora seu maior aliado eleitoral já não é o presidente Lula, mas o próprio candidato José Serra, cuja imagem e atitude truculentas por si mesmas têm sido mais do que suficientes para afugentar o eleitor, sem contar as gestões neoliberalíssimas de apoio exclusivo ao capital, tornando-o o maior responsável pelo franco declínio de sua campanha.

Serra personifica a chamada direita perversa e burra, a direita alucinada que acredita piamente se manter indefinidamente no poder sem fazer a mínima concessão às questões sociais e direitos humanos – ao lado humano mais que humano do ser humano que precisa trabalhar, comer, morar, respirar & outras coisas de somenos. E mais: promovendo a exclusão e eliminando literalmente qualquer oposição. Porque essa direita declarou guerra ao ser humano. Serra, que encarna esta direita, reduz sua campanha a um “duelo de competências”. Esquecendo-se que presidente não é gerente, país não é supermercado e população não se demite. Exclui. Apaga. Deleta.

Na pesquisa Datafolha, divulgada em 26/7, que coincide com o Vox Populi precisamente nas declarações espontâneas de voto, imunes às distorções de abordagem e amostragem, vemos que Dilma lidera, como segue:
- Datafolha, espontânea (na sua opinião, quem vai ganhar as eleições para presidente da república em outubro?): Dilma 21% X Serra 16% (diferença de cinco pontos);
- Vox Populi, espontânea: Dilma 28% X Serra 21% (diferença de sete pontos).
Nas respostas espontâneas colhidas pelo Datafolha, 4% ainda declaram voto em Lula e outros 4% mencionam ‘no candidato do Lula’ e ‘no candidato do PT’. Um universo de 8 pontos que deve transitar majoritariamente para a candidatura Dilma, graças à maior exposição da ex-ministra ao lado de Lula na propaganda eleitoral gratuita. Pois, como vimos, em questões de imagem, Serra perde feio.

A gota d’água foi o vice. Em São Paulo se ouve por toda parte: “No Serra, eu não voto. Deus me livre, já imaginou se o sujeito pifa e esse Índio vira presidente do Brasil?”.

O fato é que, ao acolher como vice o deputado Índio da Costa (DEM-RJ), inexperiente, inexpressivo, um ilustríssimo desconhecido para o resto do país, parece que Serra esqueceu completamente o eleitor.

Por quê? Entre outras razões, porque, no Brasil, a possibilidade do vice-presidente assumir o mandato presidencial não é algo remoto, mas um evento perfeitamente possível de ocorrer e a qualquer momento, pois nossa memória política recente ainda registra que Sarney, vice de Tancredo, foi presidente durante cinco anos, de 1985 a 1990, e Itamar Franco, vice de Collor, arriado do poder em 1992, exerceu o mandato até 1995. Sem entrar no mérito de um ou outro, constata-se apenas o fato. Sem contar que o próprio Serra, campeão de alpinismo eleitoral, não costuma terminar mandatos para os quais é eleito, nem jurando de pé junto e registrando em cartório. Se a questão é competência para governar o Brasil, referido vice teria alguma?

Serra não é exatamente o pós-lula, é um retro-FHC. Ou Zé Pedágio, como é chamado “carinhosamente pelos” paulistas. E agora já não estamos mais nos referindo à imagem mas à sua peculiar competência – que ele pretende estender para todo o país e por um bom tempo.

Sob as gestões do PSDB de Serra, Sampa ganha um novo pedágio a cada 40 dias.

Desde o início da privatização das rodovias de São Paulo, em 1998, foram instalados 112 pedágios nas estradas paulistas, estado que já tem mais pedágios do que todo o resto do Brasil. Segundo a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias, são 160 pontos de cobrança em vias estaduais e federais no território paulista, contra 113 no restante do país. Em resumo, fica mais barato viajar para outro estado do que dentro do próprio. Cruzar de automóvel os 404 km entre a capital paulista e Curitiba, PR, custa R$ 9 em tarifas, mas para cobrir a mesma distância até, digamos,Catanduva, paga-se R$ 46,70.

No entanto, tocar publicamente neste assunto já custou o emprego de dois conhecidos jornalistas da TV Cultura, Heródoto Barbeiro e Gabriel Priolli, quando no Roda-Viva questionaram Serra sobre os pedágios abusivos cobrados nas rodovias privatizadas de Sampa.

Mas essa privatização generalizada da vida (por que não terceirizar a primeira missa, nos dias úteis?) me lembra um refinado monólogo escrito por Roberto Schwarz (1) na primeira pessoa dum futuro dono de pinguela, com pedágio para pedestres, do qual extraio alguns trechos : “Há coisa mais poética do que um casal que compra uma ponte?… Que raiva me dá quando vejo as pessoas respirando de graça! Retrocesso não é comigo, vou me defender da inadimplência dos despossuídos. Não sei se quero a pinguela (o pedágio), que vai me dar uma porcaria por não sei quanto tempo, o qual tratarei de prolongar ao máximo, à bala ou como for possível, depois do que não fico no país nem um minuto mais!.”

(1) In Seqüências Brasileiras, pg. 239. S.Paulo, Cia das Letras, 1999

sábado, 31 de julho de 2010

Se PT e PSDB fossem iguais

Se tudo fosse igual
Por Emir Sader


Há uma tese que corre em setores políticos distintos que, pelos equívocos que contém e pelas conseqüências desastrosas que gera, deve ser analisada com precisão. É a tese de que o PT e o PSDB seriam a mesma coisa, assim como os governos do FHC e do Lula.


A tese leva a uma espécie de “terceirismo” entre a direita e a esquerda, buscando definir uma eqüidistância em relação às candidaturas da Dilma e do Serra. Em 2006 essa posição levou a que alguns setores da esquerda propusessem o voto branco ou nulo diante da alternativa de Lula ou Alckmin, como se fosse igual para o Brasil qualquer um deles que fosse eleito.


Se os governos de FHC e Lula fossem iguais, a desigualdade teria diminuído e não aumentado durante o governo de FHC. Se fossem iguais, o extraordinário apoio popular que tem Lula teria sido dado também ao governo FHC que, ao contrário, terminou seu mandato com uma imensa rejeição da população brasileira.


Se fossem iguais, a reação do Brasil diante da mais grave crise econômica internacional desde 1929 teria sido a mesma de FHC em 1999: elevar a taxa de juros a 48%, pedir novo empréstimo ao FMI, assinar a corresponde Carta de Intenções (deles), cortar recursos das políticas sociais, aumentando a recessão e o desemprego, que levou o Brasil à uma profunda e prolongada recessão, de que só saímos no governo Lula.


Enquanto que o Lula reagiu diante da crise incentivando a retomada do crescimento da economia, baixando as taxas de juros, mantendo o poder aquisitivo dos salários, intensificando as políticas sociais, e fazendo assim que superássemos rapidamente a crise.


Se fossem iguais, não teria sentido a luta contra a ALCA – Área de Livre Comércio das Américas -, que FHC propugnava e que o governo Lula inviabilizou, para fortalecer os processos de integração regional. Dizer que são governos iguais ou similares é dizer que tanto faz privilegiar alianças subordinadas com os EUA ou aliar-se prioritariamente com os países do Sul do mundo, com os Brics entre eles.


Se fossem iguais os governos FHC e Lula, o Estado mínimo a que tinha sido reduzido o Estado brasileiro seria o mesmo que o Estado indutor do crescimento e a garantia da extensão dos direitos sociais da maioria pobre da população. O desenvolvimento, suprimido do discurso de FHC, foi resgatado como objetivo estratégico pelo governo Lula, articulado intrinsecamente a políticas sociais e de distribuição de renda.


Se fossem iguais, a maioria dos trabalhadores continuaria a não ter carteira de trabalho assinado, predominando o emprego informal sobre o formal. O poder aquisitivo dos salário teria continuado a cair, ao invés de ser elevado acima da inflação.


É grave que haja setores na esquerda que não consigam distinguir essas diferenças, entre a direita e a esquerda. Perdem a capacidade de identificar onde está a direita – o inimigo fundamental do campo popular -, correndo o grave risco de fazer o jogo dela, em detrimento da força e da unidade da esquerda.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Dez falsos motivos para não votar na Dilma

Por Jorge Furtado*

Tenho alguns amigos que não pretendem votar na Dilma, um ou outro até diz que vai votar no Serra. Espero que sigam sendo meus amigos. Política, como ensina André Comte-Sponville, supõe conflitos: “A política nos reúne nos opondo: ela nos opõe sobre a melhor maneira de nos reunir”.

Leio diariamente o noticiário político e ainda não encontrei bons argumentos para votar no Serra, uma candidatura que cada vez mais assume seu caráter conservador. Serra representa o grupo político que governou o Brasil antes do Lula, com desempenho, sob qualquer critério, muito inferior ao do governo petista, a comparação chega a ser enfadonha, vai lá para o pé da página, quem quiser que leia. (1)

Ouvi alguns argumentos razoáveis para votar em Marina, como incluir a sustentabilidade na agenda do desenvolvimento. Marina foi ministra do Lula por sete anos e parece ser uma boa pessoa, uma batalhadora das causas ambientalistas. Tem, no entanto (na minha opinião) o inconveniente de fazer parte de uma igreja bastante rígida, o que me faz temer sobre a capacidade que teria um eventual governo comandado por ela de avançar em questões fundamentais como os direitos dos homossexuais, a descriminalizaçã o do aborto ou as pesquisas envolvendo as células tronco.

Ouço e leio alguns argumentos para não votar em Dilma, argumentos que me parecem inconsistentes, distorcidos, precários ou simplesmente falsos. Passo a analisar os dez mais freqüentes:

1. “Alternância no poder é bom”.
Falso. O sentido da democracia não é a alternância no poder e sim a escolha, pela maioria, da melhor proposta de governo, levando-se em conta o conhecimento que o eleitor tem dos candidatos e seus grupo políticos, o que dizem pretender fazer e, principalmente, o que fizeram quando exerceram o poder. Ninguém pode defender seriamente a idéia de que seria boa a alternância entre a recessão e o desenvolvimento, entre o desemprego e a geração de empregos, entre o arrocho salarial e o aumento do poder aquisitivo da população, entre a distribuição e a concentração da riqueza. Se a alternância no poder fosse um valor em si não precisaria haver eleição e muito menos deveria haver a possibilidade de reeleição.

2. “Não há mais diferença entre direita e esquerda”.
Falso. Esquerda e direita são posições relativas, não absolutas. A esquerda é, desde a sua origem, a posição política que tem por objetivo a diminuição das desigualdades sociais, a distribuição da riqueza, a inserção social dos desfavorecidos. As conquistas necessárias para se atingir estes objetivos mudam com o tempo. Hoje, ser de esquerda significa defender o fortalecimento do estado como garantidor do bem-estar social, regulador do mercado, promotor do desenvolvimento e da distribuição de riqueza, tudo isso numa sociedade democrática com plena liberdade de expressão e ampla defesa das minorias. O complexo (e confuso) sistema político brasileiro exige que os vários partidos se reúnam em coligações que lhes garantam maioria parlamentar, sem a qual o país se torna ingovernável. A candidatura de Dilma tem o apoio de políticos que jamais poderiam ser chamados de “esquerdistas”, como Sarney, Collor ou Renan Calheiros, lideranças regionais que se abrigam principalmente no PMDB, partido de espectro ideológico muito amplo. José Serra tem o apoio majoritário da direita e da extrema-direita reunida no DEM (2), da “direita” do PMDB, além do PTB, PPS e outros pequenos partidos de direita: Roberto Jefferson, Jorge Borhausen, ACM Netto, Orestes Quércia, Heráclito Fortes, Roberto Freire, Demóstenes Torres, Álvaro Dias, Arthur Virgílio, Agripino Maia, Joaquim Roriz, Marconi Pirilo, Ronaldo Caiado, Katia Abreu, André Pucinelli, são todos de direita e todos serristas, isso para não falar no folclórico Índio da Costa, vice de Serra. Comparado com Agripino Maia ou Jorge Borhausen, José Sarney é Che Guevara.

3. “Dilma não é simpática”.
Argumento precário e totalmente subjetivo. Precário porque a simpatia não é, ou não deveria ser, um atributo fundamental para o bom governante. Subjetivo, porque o quesito “simpatia” depende totalmente do gosto do freguês. Na minha opinião, por exemplo, é difícil encontrar alguém na vida pública que seja mais antipático que José Serra, embora ele talvez tenha sido um bom governante de seu estado. Sua arrogância com quem lhe faz críticas, seu destempero e prepotência com jornalistas, especialmente com as mulheres, chega a ser revoltante.

4. “Dilma não tem experiência”.
Argumento inconsistente. Dilma foi secretária de estado, foi ministra de Minas e Energia e da Casa Civil, fez parte do conselho da Petrobras, gerenciou com eficiência os gigantescos investimentos do PAC, dos programas de habitação popular e eletrificação rural. Dilma tem muito mais experiência administrativa, por exemplo, do que tinha o Lula, que só tinha sido parlamentar, nunca tinha administrado um orçamento, e está fazendo um bom governo.

5. “Dilma foi terrorista”.
Argumento em parte falso, em parte distorcido. Falso, porque não há qualquer prova de que Dilma tenha tomado parte de ações “terroristas”. Distorcido, porque é fato que Dilma fez parte de grupos de resistência à ditadura militar, do que deve se orgulhar, e que este grupo praticou ações armadas, o que pode (ou não) ser condenável. José Serra também fez parte de um grupo de resistência à ditadura, a AP (Ação Popular), que também praticou ações armadas, das quais Serra não tomou parte. Muitos jovens que participaram de grupos de resistência à ditadura hoje participam da vida democrática como candidatos. Alguns, como Fernando Gabeira, participaram ativamente de seqüestros, assaltos a banco e ações armadas. A luta daqueles jovens, mesmo que por meios discutíveis, ajudou a restabelecer a democracia no país e deveria ser motivo de orgulho, não de vergonha.

6. “As coisas boas do governo petista começaram no governo tucano”.
Falso. Todo governo herda políticas e programas do governo anterior, políticas que pode manter, transformar, ampliar, reduzir ou encerrar. O governo FHC herdou do governo Itamar o real, o programa dos genéricos, o FAT, o programa de combate a AIDS. Teve o mérito de manter e aperfeiçoá-los, desenvolvê-los, ampliá-los. O governo Lula herdou do governo FHC, por exemplo, vários programas de assistência social. Teve o mérito de unificá-los e ampliá-los, criando o Bolsa Família. De qualquer maneira, os resultados do governo Lula são tão superiores aos do governo FHC que o debate “quem começou o quê” torna-se irrelevante.

7. “Serra vai moralizar a política”.
Argumento inconsistente. Nos oito anos de governo tucano-pefelista – no qual José Serra ocupou papel de destaque, sendo escolhido para suceder FHC – foram inúmeros os casos de corrupção, um deles no próprio Ministério da Saúde, comandado por Serra, o superfaturamento de ambulâncias investigado pela “Operação Sanguessuga”. Se considerarmos o volume de dinheiro público desviado para destinos nebulosos e paraísos fiscais nas privatizações e o auxílio luxuoso aos banqueiros falidos, o governo tucano talvez tenha sido o mais corrupto da história do país. Ao contrário do que aconteceu no governo Lula, a corrupção no governo FHC não foi investigada por nenhuma CPI, todas sepultadas pela maioria parlamentar da coligação PSDB-PFL. O procurador da república ficou conhecido com “engavetador da república”, tal a quantidade de investigações criminais que morreram em suas mãos. O esquema de financiamento eleitoral batizado de “mensalão” foi criado pelo presidente nacional do PSDB, senador Eduardo Azeredo, hoje réu em processo criminal. O governador José Roberto Arruda, do DEM, era o principal candidato ao posto de vice-presidente na chapa de Serra, até ser preso por corrupção no “mensalão do DEM”. Roberto Jefferson, réu confesso do mensalão petista, hoje apóia José Serra. Todos estes fatos, incontestáveis, não indicam que um eventual governo Serra poderia ser mais eficiente no combate à corrupção do que seria um governo Dilma, ao contrário.

8. “O PT apóia as FARC”.
Argumento falso. É fato que, no passado, as FARC ensaiaram uma tentativa de institucionalizaçã o e buscaram aproximação com o PT, então na oposição, e também com o governo brasileiro, através de contatos com o líder do governo tucano, Arthur Virgílio. Estes contatos foram rompidos com a radicalização da guerrilha na Colômbia e nunca foram retomados, a não ser nos delírios da imprensa de extrema-direita. A relação entre o governo brasileiro e os governos estabelecidos de vários países deve estar acima de divergências ideológicas, num princípio básico da diplomacia, o da auto-determinaçã o dos povos. Não há notícias, por exemplo, de capitalistas brasileiros que defendam o rompimento das relações com a China, um dos nossos maiores parceiros comerciais, por se tratar de uma ditadura. Ou alguém acha que a China é um país democrático?

9. “O PT censura a imprensa”.
Argumento falso. Em seus oito anos de governo o presidente Lula enfrentou a oposição feroz e constante dos principais veículos da antiga imprensa. Esta oposição foi explicitada pela presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) que declarou que seus filiados assumiram “a posição oposicionista (sic) deste país”. Não há registro de um único caso de censura à imprensa por parte do governo Lula. O que há, frequentemente, é a queixa dos órgãos de imprensa sobre tentativas da sociedade e do governo, a exemplo do que acontece em todos os países democráticos do mundo, de regulamentar a atividade da mídia.

10. “Os jornais, a televisão e as revistas falam muito mal da Dilma e muito bem do Serra”.
Isso é verdade. E mais um bom motivo para votar nela e não nele.

x

(1) Alguns dados comparativos dos governos FHC e Lula.

Geração de empregos:
FHC/Serra = 780 mil x Lula/Dilma = 12 milhões

Salário mínimo:
FHC/Serra = 64 dólares x Lula/Dilma = 290 dólares

Mobilidade social (brasileiros que deixaram a linha da pobreza):
FHC/Serra = 2 milhões x Lula/Dilma = 27 milhões

Risco Brasil:
FHC/Serra = 2.700 pontos x Lula/Dilma = 200 pontos

Dólar:
FHC/Serra = R$ 3,00 x Lula/Dilma = R$ 1,78

Reservas cambiais:
FHC/Serra = 185 bilhões de dólares negativos x Lula/Dilma = 239 bilhões de dólares positivos.

Relação crédito/PIB:
FHC/Serra = 14% x Lula/Dilma = 34%

Produção de automóveis:
FHC/Serra = queda de 20% x Lula/Dilma = aumento de 30%

Taxa de juros:
FHC/Serra = 27% x Lula/Dilma = 10,75%

(2) Elio Gaspari, na Folha de S.Paulo de 25.07.10:

José Serra começou sua campanha dizendo: “Não aceito o raciocínio do nós contra eles”, e em apenas dois meses viu-se lançado pelo seu colega de chapa numa discussão em torno das ligações do PT com as Farc e o narcotráfico. Caso típico de rabo que abanou o cachorro. O destempero de Indio da Costa tem método. Se Tupã ajudar Serra a vencer a eleição, o DEM volta ao poder. Se prejudicar, ajudando Dilma Rousseff, o PSDB sairá da campanha com a identidade estilhaçada. Já o DEM, que entrou na disputa com o cocar do seu mensalão, sairá brandindo o tacape do conservadorismo feroz que renasceu em diversos países, sobretudo nos Estados Unidos.

*Um dos mais respeitados cineastas brasileiros, Jorge Alberto Furtado, 51 anos, trabalhou como repórter, apresentador, editor, roteirista e produtor. Já realizou mais de 30 trabalhos como roteirista/diretor e recebeu 13 premiações dentre os quais, o Prêmio Cinema Brasil, em 2003, de melhor diretor e de melhor roteiro original do longa O homem que copiava.

Do www.casacinepoa.com.br

domingo, 25 de julho de 2010

José Serra, entre drogas e alucinações

por Wálter Fanganiello Maierovitch, na CartaCapital

Quando ministro da pasta da Saúde, o atual candidato José Serra jamais se preocupou com a questão das drogas ilícitas, no que tocava ao tratamento do dependente químico e psíquico e na formação dos agentes de saúde. Sua gestão, no particular, foi marcada pelo descaso e pelo desrespeito aos direitos humanos.

No ministério, ele se revelou incapaz de compreender que estava diante de um grave problema de saúde pública. E os aumentos relativos ao consumo e à oferta de drogas ilícitas causavam consequências sociossanitárias de grande monta. Apesar disso, fez de conta que o problema não existia.

Ao primeiro Fórum Nacional sobre drogas ilícitas e álcool, Serra virou as costas. Pela primeira vez realizado no Brasil, tratava-se de um fórum multidisciplinar e voltado a consultar e debater com a sociedade civil uma nova política sobre drogas proibidas, isso nos campos da repressão, da prevenção, do tratamento e da reinserção social. Serra não deu o “ar da graça” ou justificou a ausência, para um auditório de mil participantes.

Como ministro da Saúde, José Serra jamais compareceu às atuais Semanas Nacionais sobre Drogas (englobava o dia estabelecido pelas Nações Unidas para conscientização sobre o problema das drogas proibidas nas suas convenções). O então ministro da Saúde adotava comportamento único, diverso dos que se envolviam: presidente FHC, ministro da Educação, chefes das casas Civil e de Segurança Institucional, secretário nacional de Direitos Humanos, senadores, deputados, governadores, prefeitos, vereadores, procurador-geral de Justiça, ministros do Superior Tribunal de Justiça, advogado-geral da União, sindicalistas, membros de ONGs, líderes empresariais. Até a torcida do Flamengo, dos demais clubes, federações e confederações esportivas. Todos menos Serra.

Como candidato à Presidência, Serra sentiu-se, com relação às drogas ilícitas, legitimado a identificar traficantes internacionais. No dia 26 de maio deste ano, acusou o presidente boliviano Evo Morales de “cumplicidade” com o tráfico de cocaína para o Brasil. Para Serra, 90% da cocaína consumida no Brasil é boliviana e Morales não faz o “controle desse contrabando” (sic para contrabando).

Serra não sabe que para a elaboração do cloridrato de cocaína, a partir da folha de coca, são necessários insumos químicos: éter, acetona etc. A Bolívia não tem indústria química e o Brasil é o maior fornecedor de precursores químicos para os refinadores bolivianos de cocaína. A dupla via não é percebida por Serra, apesar de pagamentos de muitos “pedágios”.

Reza um ditado popular que “quem sai aos seus, não degenera”. O candidato Índio da Costa não degenerou. Seguiu Serra na indicação de traficantes internacionais. Só, trocou Evo Morales pelo Partido dos Trabalhadores (PT). No fundo, uma alucinação de Índio, que se qualifica como candidato à condenação por autoria de crimes contra a honra e, no juízo civil, indenizações por danos morais a todos os filiados do PT.

Nem contumazes criadores de factoides, como as agências norte-americanas DEA e CIA, chegaram ao grau de irresponsabilidade de Índio da Costa, que mostrou a todos o quanto a sua cabeça é desmobiliada.

Por outro lado e no campo das drogas lícitas, Serra, à frente do Ministério da Saúde, deu à questão do alcoolismo um tratamento indigno, ou melhor, não fez nada. Quando prefeito da capital de São Paulo, autorizou o seu secretário de governo a construir obstáculos de modo a impedir que alcoolistas e mendigos continuassem a repousar debaixo dos viadutos e pontilhões. Sua meta era expulsar os carentes para conquistar as elites. Uma “higienização”, à Hitler e Carlos Lacerda.

Ainda quando prefeito, Serra vestiu indumentária fundamentalista e populista antes envergada por Andrew Volstead, autor da chamada Lei Seca, que fez a fortuna da Cosa Nostra sículo-norte-americana, e por Rudolpho Giuliani, que perseguiu violentamente bebedores de cerveja, afrodescendentes e imigrantes. Com a política de “tolerância zero”, Giuliani, depois do seu segundo mandato e quando se percebeu que desrespeitava direitos humanos, encerrou melancolicamente a carreira política: desistiu da candidatura ao Senado, pois não venceria Hillary Clinton. Posteriormente, não conseguiu se habilitar para concorrer à Presidência.

Serra, à época de sua Lei Seca, ignorou ensinamentos fundamentais, ou seja, o de a prevenção ao alcoolismo a começar nas escolas, públicas (municipais e estaduais) e privadas. Mais ainda, não entendeu necessários programas informativos e de tratamento médico nas fábricas e demais locais de trabalho.

Na visão canhestra de Serra, a “lei seca”paulista serviria para baixar os índices de criminalidade. Serra demonstrou desconhecer as verdadeiras causas sociais de aumento da criminalidade: desemprego, desigualdade, discriminação, má distribuição de renda, baixa escolaridade.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Delírio golpista se deve a ascensão de Dilma

O país já se acostumou a ver membros das altas esferas do Poder Judiciário darem declarações públicas de viés partidário. Gilmar Mendes e Marco Aurélio de Mello são os dois maiores expoentes desse tipo de conduta. Todavia, se formos analisar o trabalho do Supremo Tribunal Federal, notar-se-á que os arroubos persecutórios desses juízes contra Lula e o PT nunca tiveram maiores conseqüências.

Há membros e membros do Poder Judiciário. Tanto o Supremo Tribunal Federal quanto o Tribunal Superior Eleitoral são colegiados. O fato de abrigarem membros espalhafatosos e dispostos a gerar fatos políticos do interesse dos seus benfeitores – como no caso de Gilmar Mendes, que se tornou juiz da Suprema Corte graças a FHC – não significa que tenham força para levar aquele colegiado às decisões que gostariam.

O silêncio da geração de juízes do STF – e que integram o TSE – nomeados por Lula mostra que não se prestam a fazer serviços políticos. Prova disso está nas recusas e nas concordâncias da Justiça Eleitoral com as representações dos tucanos contra Lula e Dilma Rousseff. Apesar da judicialização do processo eleitoral desencadeada pela campanha de José Serra, o Tribunal Eleitoral tem mostrado que a força dos conservadores na Justiça já não é mais aquela.

Há um misto de desespero, devaneio e pseudo estratégia política nas ameaças da direita de melar o processo eleitoral impedindo Dilma de disputar uma eleição que as pesquisas já mostram – mesmo que não sejam mostradas – que pode ser definida no primeiro turno a favor da candidata petista.

Além disso, Serra fez coisa igual ou pior do que essa de que acusam Lula enquanto sonham com uma vitória eleitoral no tapetão. Fez pior porque Lula fez num evento qualquer como o do trem-bala e Serra, fez na TV, no horário eleitoral de seu partido na Bahia, o que fez o TSE multá-lo na terça-feira passada (6/7) por “propaganda antecipada”. A mídia, aliás, não divulgou. Enquanto noticiava as multas de Lula e Dilma sem parar, escondia a multa de Serra.

Desta maneira, a Justiça Eleitoral teria que cometer a enormidade de tratar Dilma e Serra de formas diferentes, pois se cassar um terá que cassar o outro, de forma que as declarações da vice-procuradora-geral eleitoral Sandra Cureau aludindo a pedido de cassação da candidatura da petista, não acredito nada, nada que seriam acolhidas pelo plenário do TSE.

Em vez de me preocupar com os devaneios golpistas e com a disposição de membros do Judiciário para aparecerem mais do que a jabulani na Copa ou para criarem fatos políticos para o consórcio demo-tucano, prefiro ver o lado bom desse caso das ameaças de impugnarem a candidatura de Dilma.

O flerte com o golpe judiciário confirma notícias como a veiculada pelo colunista da Folha de São Paulo Fernando Rodrigues, de que em pesquisa nacional com três mil pessoas que o PT teria encomendado a petista teria 43% das intenções de voto e Serra, 36%. Pode ser isso, pode ser mais, mas a notícia também combina com uma certa euforia que está se vendo no PT e com o crescente mau-humor que o tucano vem expondo publicamente.

Em minha opinião, essa conversa sobre cassar Dilma será entendida por muita gente como tentativa de candidatos em desvantagem de usarem seus amigos no Judiciário para melar o jogo. Tudo se resume àquelas duas apostas que venho dizendo que se confrontarão neste ano. Serra e o PSDB apostam que o povo é burro e Lula, Dilma e o PT apostam que é muito mais esperto do que supõe a direita brasileira.

Dilma defende ampla parceria para o combate ao tráfico de drogas

A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, defendeu hoje (16),durante entrevista hoje à rádio Banda B, de Curitiba (PR), a necessidade de se construir uma parceria ampla, entre União, estados e municípios, para reforçar o policiamento de fronteiras a fim de combater o tráfico de drogas e de contrabando nas fronteiras.

“Nós estamos, e eu vou intensificar isso muito mais, através da operação Sentinela, construindo uma parceria entre Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Forças Armadas, todos os contingentes da Polícia Civil e militar, e os municípios envolvidos e de fronteira”, disse Dilma.

Ela destacou a utilização do Veículo Aéreo Não Tripulado (Vant), um equipamento militar, que será utilizado pela primeira vez, especialmente em Foz de Iguaçu, na região da Tríplice Fronteira, capaz de identificar áreas plantadas com coca, rotas de tráfico e laboratórios ilegais. Uma medida, segundo ela, essencial para intensificar o combate às drogas, principalmente ao crack, com alto índice de consumo entre adolescentes e jovens. “E, portanto, intensificar de forma rigorosa a repressão a toda e qualquer ação do crime organizado, nessa fronteira, é crucial”.

Escolas técnicas

Durante a entrevista, Dilma falou da importância da expansão da rede de escolas técnicas no Brasil, para atender à demanda do mercado de trabalho por mão de obra qualificada. Ela contabiliza que, desde 2003, início do atual governo até o final desde ano, serão 214 escolas profissionalizantes. Escolas que vão contribuir para garantir a capacitação profissional, disse Dilma.

Em sua avaliação, outro aspecto importante é observar a vocação de cada região e oferecer a formação técnica adequada à demanda daquele mercado. “Tem regiões, por exemplo, onde o agronegócio, a agroindústria tem maior peso. Então, você teria de ter aí maior profissionalização dirigida para essa área do agronegócio ou da agricultura familiar, possibilitando que as pessoas tivessem formação técnica especializada”, disse.

Emprego em alta

Dilma comemorou os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados ontem, de criação, em seis meses, de 1,47 milhão de empregos, o melhor resultado do País em 20 anos.

“Para se ter uma idéia, a maior quantidade de emprego que ocorreu no período do governo Fernando Henrique, foi 1,49 milhão. Isso em um ano. Deles é um ano. Nós, em menos, em seis meses, criamos a mesma coisa. Praticamente a mesma coisa. Então, o Brasil mudou”, destacou.

“Eles [a oposição], quando puderam fazer mais, já que estavam no governo, fizeram menos. E detestam essa comparação de quem fez o que. Eu sou um produto de um esforço imenso de um governo, eu sou produto disso”, disse.

www.dilma13.com.br

Serra precisa de amigos

Por: Leandro Fortes

Ao acusar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ter transformado o Brasil em uma “república sindicalista”, José Serra optou por agregar a seu modelito eleitoral, definitivamente, o discurso udenista de origem, de forma literal, da maneira como foi concebido pelas elites brasileiras antes do golpe militar de 1964. Não deixa de ser curioso ouvir essa expressão, “república sindicalista”, vinda da boca de quem, naquele mesmo ano do golpe, colocava-se ao lado do presidente João Goulart contra os golpistas que se aninhavam nos quartéis com o mesmíssimo pretexto, levantado agora pelo candidato do PSDB, para amedrontar a classe média. Jango, dizia a UDN, macaqueavam os generais, havia feito do Brasil uma “república sindicalista”. Ao se encarcerar nesse conceito político arcaico, preconceituoso e, sobretudo, falacioso, Serra completou o longo arco de aproximação com a extrema-direita brasileira, iniciado ao lado de Fernando Henrique Cardoso, nos anos 1990. Um casamento celebrado sob as cinzas de seu passado e de sua história, um funeral político que começou a ser conduzido sob a nebulosa aliança de interesses privatistas e conveniências fisiológicas pelo PFL de Antonio Carlos Magalhães, hoje, DEM, de figuras menores, minúsculas, como o vice que lhe enfiaram goela abaixo, o deputado Índio “multa-esmolé” da Costa.

Pior que o conceito, só a audiência especialmente convidada, talvez os amigos que lhe restaram, artistas e intelectuais arrebanhados às pressas para ouvir de Serra seus planos para a cultura brasileira: Carlos Vereza, Rosa Maria Murtinho, Maitê Proença, Zelito Viana, Ferreira Gullar e Marcelo Madureira – este último, raro exemplar de humorista de direita, palestrante eventual do Instituto Millennium, a sociedade acadêmica da neo UDN. Faltou Regina Duarte, a apavoradinha do Brasil, ausente, talvez, por se sentir bem representada. Diante de tão seleta platéia, talvez porque lhe faltem idéias para o setor, Serra destilou fel puro contra as ações culturais do governo Lula, sobretudo aquelas levadas a cabo pela Petrobras, a mesma empresa que os tucanos um dia pretenderam privatizar com o nome de Petrobrax. Animado com o discurso de Serra, o humorista Madureira saiu-se com essa: “Quero que o Estado não se meta na cultura e no meu trabalho, como está acontecendo”. Madureira trabalha na TV Globo, no “Casseta & Planeta Urgente”. Como o Estado está se metendo no trabalho dele, ainda é um mistério para todos nós. Mas, a julgar pela falta de graça absoluta do programa em questão, eu imagino que deva ser uma ação do Ministério da Defesa.

O que José Serra não confessou a seus amigos artistas é que a “república sindicalista” saiu-lhe da boca por despeito e vingança, depois que as maiores centrais sindicais do país (CUT, CGT, CTB, CGTB, Força Sindical e Nova Central) divulgaram um manifesto conjunto no qual acusam o candidato tucano de mentiroso por tentar se apropriar da criação do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e por “tirar do papel”, seja lá o que isso signifique, o Seguro-Desemprego. “Serra não fez nenhuma coisa, nem outra”, esclareceram as centrais. O manifesto também lembra que, na Assembléia Nacional Constituinte (1987-1988), o então deputado federal José Serra boicotou inúmeros avanços para os trabalhadores e o sindicalismo. Serra votou contra a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, a garantia de aumento real do salário mínimo, a estabilidade do dirigente sindical, o direito à greve, entre outras medidas.

Desmascarado, Serra partiu para a tese da “república sindicalista” e, apoiado em apenas uma central que lhe deu acolhida, a União Geral dos Trabalhadores (UGT), chamou todas as outras de “pelegas” e as acusou de receber dinheiro do governo federal para fazer campanha para a candidata Dilma Rousseff, do PT. Baseado nesse marketing primário, ditado unicamente pelo desespero, Serra mal tem conseguido manter firmes seus badalados nervos de aço, que logo viram frangalhos quando defrontados por repórteres dispostos a fazer perguntas que lhe são politicamente inconvenientes, sejam os pedágios de São Paulo, seja sua falta de popularidade no Nordeste.

Sem amigos e, ao que parece, sem assessores, Serra continua recorrendo ao tolo expediente de bater boca com os jornalistas. Continua, incrivelmente, a fugir das perguntas com outras perguntas, a construir na internet, nos blogs, no youtube e nas redes sociais virtuais uma imagem permanente de candidato à deriva, protagonista de vídeos muitíssimo mais divertidos que, por exemplo, as piadas insossas que seu companheiro de artes cômicas, Marcelo Madureira, insiste em contar na televisão.

Via: Brasília, Eu Vi

Igualdade de gênero: ONU cria órgão para valorizar e defender a mulher

O Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem) apresenta nesta quarta-feira (14), em Brasília, a ONU Mulheres - entidade das Nações Unidas para a igualdade de gênero e o empoderamento feminino, cuja criação foi anunciada no último dia 2 de julho, em Nova York, na Assembleia Geral da ONU.



A organização, que estará em pleno funcionamento em Janeiro de 2011, vai unificar as quatro instâncias de mulheres da ONU: a Divisão para o Avanço das Mulheres (DAW, na sigla em inglês, entidade criada em 1946); o Instituto Internacional de Pesquisas e Capacitação para a Promoção da Mulher (Instraw, criado em 1976); o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem, criado em 1976) e o Escritório de Assessoria Especial em Questões de Gênero (Osagi, criado em 1997).



O evento acontece paralelamente à 11ª Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e do Caribe, promovida pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). A conferência vai discutir os avanços e desafios dos governos do continente nas questões de gênero.



Segundo a secretária executiva da Cepal, Alicia Bárcena, a reunião vai propor aos governos uma agenda de desenvolvimento com o objeto de garantir a igualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres.



Para a ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, Nilcea Freire, a conferência e o documento final devem refletir os avanços e as conquistas das mulheres e propor desafios. "Devemos fazer uma análise das mulheres no mercado de trabalho, da difícil carga que carregam nas funções produtivas e reprodutivas". A conferência vai até esta sexta-feira (16), em Brasília.



A ONU Mulheres será apresentada durante um café da manhã com ministras, parlamentares e altas autoridades dos mecanismos para as mulheres da América Latina e Caribe que participam do encontro em Brasília. O encontro será conduzido por Gladys Acosta, chefa do Unifem para a região, e deverá reunir cerca de 20 lideranças femininas.



Segundo Gladys, a ONU Mulheres nasce com a missão de acelerar o progresso e o atendimento das demandas das mulheres e meninas em todo o mundo. É resultado de anos de negociações entre Estados-membros da ONU e pelo movimento de defesa das mulheres no mundo. Faz parte da agenda de reforma das Nações Unidas, reunindo recursos e de mandatos de maior impacto. A expectativa é que a ONU Mulheres tenha um orçamento inicial de 500 milhões de dólares/ano, montante que representa o dobro do orçamento anual das quatro instâncias de mulheres das Nações Unidas.



ONU Mulheres terá duas funções principais: irá apoiar os organismos intergovernamentais como a Comissão sobre a Situação da Mulher na formulação de políticas, padrões e normas globais, e vai ajudar os Estados-membros a implementar estas normas, fornecendo apoio técnico e financeiro adequado para os países que o solicitem, bem como estabelecendo parcerias eficazes com a sociedade civil. Também ajudará o Sistema ONU a ser responsável pelos seus próprios compromissos sobre a igualdade de gênero, incluindo o acompanhamento regular do progresso do Sistema.



Mulheres negras e indígenas

Ainda na quarta-feira (14), das 13h às 14h30, a DAW, Instraw e Unifem realizam o evento paralelo "Empoderamento econômico das mulheres indígenas e afrodescendentes da América Latina e Caribe". O painel terá como expositoras Tania Tarqui, do Fórum Internacional das Mulheres Indígenas, e Tania Rodriguez, da Rede de Mulheres Afro-latinoamericanas, Afro-caribenhas e da Diáspora. O evento terá moderação da jornalista chilena Ernestina País.

Portal Brasil