sexta-feira, 27 de agosto de 2010

ESTIMATIVAS PARA 3 DE OUTUBRO

Por Marcos Coimbra

Do jeito como vão, as eleições presidenciais não devem nos reservar surpresas de reta final. Ao contrário. Salvo algo inusitado, elas logo adquirirão suas feições definitivas, talvez antes que cheguemos ao cabo da primeira quinzena de veiculação da propaganda eleitoral na tevê e no rádio.

Por várias razões, a provável vitória de Dilma Rousseff- em 3 de outubro será saudada como um resultado extraordinário. Ao que tudo indica, ela alcançará uma coisa que Lula não conseguiu nem quando disputou sua reeleição: vencer no primeiro turno. Não que levar a melhor dessa maneira seja fundamental, pois o próprio Lula mostrou ser possível ganhar apenas no segundo e se tornar o presidente mais querido de nossa história.

É preciso lembrar que Lula não a obteve em 2006 por pouco, apesar de sua imagem ainda sangrar com as feridas abertas pelo mensalão. Ele havia chegado aos últimos dias daquele setembro com vantagem suficiente para resolver tudo ali mesmo e só a perdeu quando sofreu um ataque sem precedentes de nossa “grande imprensa”.

Aproveitando-se do episódio dos “aloprados”, fazendo um carnaval de sua ausência no debate na Globo, ela balançou um eleitorado ainda traumatizado pelas denúncias de 2005. Lula deixou de vencer em 1º de outubro, o que, no fim das contas, terminou sendo ótimo para ele. No segundo turno, a vasta maioria da população concluiu o processo de sua absolvição, abrindo caminho para o que vimos de 2007 em diante: ele nunca mais caiu na aprovação popular e passou a bater um recorde de popularidade atrás de outro.

Com as pesquisas de agora, é difícil estimar com precisão quanto Dilma Rousseff poderá ter no voto válido. Não é impossível que alcance os 60% que Lula fez, no segundo turno, na última eleição. E ninguém estranharia se ela ultrapassasse os 54% que Fernando Henrique obteve em 1994, com o Plano Real e tudo.

Para fazer essas contas, é preciso levar em consideração diversos fatores. Um é quanto Marina Silva poderá alcançar, a partir dos cerca de 8% que tem hoje. Há quem imagine que ela ainda cresça, apesar do mísero tempo de televisão de que disporá. Com uma única inserção em horário nobre por semana e um tempo de programa praticamente idêntico ao dos candidatos pequenos, não é uma perspectiva fácil.

O segundo fator é o desempenho dos candidatos dos partidos menores, dos quais o mais relevante é Plínio de Arruda Sampaio. Muito mais que seus congêneres de extrema esquerda, ele pode se transformar em opção para a parcela de eleitores que vota de forma mais ideo-lógica ou que apenas quer expressar seu “protesto”. Embora as pesquisas a respeito desse tipo de eleitor não sejam conclusivas, isso pode, talvez, ocorrer em detrimento de Marina: à medida que Plínio subir, ela encolherá. O que não afetaria, portanto, o tamanho do eleitorado que não votará em Dilma ou Serra.

Para, então, projetar o tamanho da possível vitória de Dilma, o relevante é saber o piso de Serra. Se ele cairá, considerando seu patamar atual, próximo a 30%.

Só o mais otimista de seus partidários acredita (de verdade) que a presença de Lula na televisão será inútil para Dilma e que seu apelo direto ao eleitor não produzirá qualquer efeito. Ou seja, ninguém acredita que ela tenha já atingido seu teto, com os 45% que tem hoje.

O voto em Serra tem, no entanto, três fundamentos, todos, aparentemente, sólidos: 1. É um político respeitado no maior estado da federação, que governou, até outro dia, com larga aprovação. 2. Representa o eleitorado antipetista,- aquele que pode até tolerar Lula, mas que nunca votou e nunca votará no PT. 3. Tem uma imagem nacional positiva, conquistada ao longo da vida e, especialmente, quando foi ministro da Saúde.

De São Paulo deve sair com 45% dos votos, o que equivale a 10% do País. O antipetismo lhe dá mais cerca de 10% e a admiração por sua biografia no restante do eleitorado, outro tanto (tudo em números redondos).
Se essas contas estiverem corretas, Serra teria pouco a perder nas próximas semanas. Em outras palavras, já estaria, agora, perto de seu mínimo.

Fica simples calcular o resultado que, hoje, parece mais provável para 3 de outubro: Serra, 30%; Marina e os pequenos, 10%; brancos e nulos, entre 8% e 10% (considerando o que foram em 2006 e 2002, depois da universalização da urna eletrônica); Dilma, entre 50% e um pouco menos que 55%. Nos válidos: Marina (e os pequenos) 11%, Serra 33%, Dilma 56%.

Talvez seja arriscado fazer essas especulações. Talvez não, considerando quão previsível está sendo esta eleição.

Fonte: Carta Capital.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Os 50 milhões de sonhos

Por Marta Rodrigues*

Um governo pode construir estradas, pontes, hospitais. Mas a melhor obra que pode deixar à população é a capacidade de sonhar. Um país nunca vai se desenvolver plenamente enquanto sua juventude não puder projetar conquistas importantes para sua vida.

Superamos o tempo em que o jovem era visto como problema, mas os conservadores ainda pregam a repressão policial, o toque de recolher, a redução da maioridade penal, o fim das ações afirmativas. Vivemos agora um cenário promissor: as vagas nas universidades federais dobraram (cotas em sua maioria). O ProUni ofertou mais de 700 mil bolsas. As escolas técnicas foram retomadas, só na Bahia foram 42 mil matriculados. Ainda, o ProJovem, as Praças da Juventude, os Pontos de Cultura, os Centros Digitais.

Apesar disso, a juventude precisa de mais. O jovem pobre precisa de igualdade de oportunidades ao que nasceu nas classes média e alta. A perpetuação geracional da pobreza se dá justamente no momento em que o jovem abandonaos estudos para ajudar nas finanças da casa. Adentrando precocemente no mercado de trabalho, ele o faz em postos menos qualificados, influenciando toda sua vida futura. Enquanto isso, os filhos ricos se preparam para assumir cargos mais relevantes.

O Brasil precisa de um grande programa que mantenha os jovens estudando, aumente sua qualificação e retarde a entrada no mercado. Precisamos de um Bolsa-Jovem, na mesma proporção do Bolsa-Família. Não mais um programa de transferência de renda, mas a porta de saída para este tipo de política.

Articulada com melhoria da educação e políticas de primeiro emprego, isto significa construir um novo padrão social, em que o desenvolvimento seja realmente para todos. Um país que pretende ser a 5ª economia do mundo não pode caminhar em outro sentido.

O dia 12 de agosto iniciou o Ano Internacional da Juventude da ONU. Para celebrar e garantir a execução dos objetivos do milênio, temos de investir na geração que representa ¼ da população, para termos jovens vivendo num Brasil inclusivo, autônomo e cheio de sonhos.

Marta Rodrigues é Vereadora pelo PT - Salvador(BA) martarodrigues@cms.ba.gov.br

domingo, 8 de agosto de 2010

A realidade do ensino superior privado na Bahia

Por David Pedreira Machado*


Existem duas visões a respeito das instituições de ensino superior privado na Bahia: uma para quem não está inserido no sistema e outra para quem está, no caso os alunos. Os não integrantes, normalmente, pensam que os problemas são mínimos e podem ser resolvidos rapidamente e de forma simplória. Na realidade esta situação é bem diferente, mas a maioria dos estudantes sofre com situações absurdas, como preços exorbitantes, sem contar com taxas abusivas para todo tipo de serviço, redução das cargas horárias dos cursos, falta de estruturas práticas do curso (ex: falta de materiais básicos para a prática nas clínicas), falta de incentivo à monitoria, bibliotecas defasadas, etc.


A grande parte dos donos das faculdades de ensino superior da rede privada na Bahia pensa apenas no lucro, esquecendo de gastar com pesquisa e extensão, com incentivos aos monitores, capacitação dos funcionários e qualificação dos professores, ações estas que significariam um investimento passível de retorno em qualidade da instituição, elevará o seu conceito no MEC e conseqüentemente trará mais estudantes


Os programas que incentivam o ingresso ao ensino superior privado são extremamente progressistas e representam um avanço na educação do país com a inserção de milhares de pessoas no ensino superior, pessoas estas que normalmente não tiveram condições de inserção no meio acadêmico por diversas razões (déficit na educação básica, concorrência desleal com alunos oriundos do ensino médio privado, etc.). Os principais programas são PROUNI e FIES.


O PROUNI (Programa Universidade para Todos) é um programa criado pelo Governo Federal no ano de 2004, pelo Ministro da Educação desta época, Tarso Genro. Este programa oferece bolsas de estudo (parciais ou integrais) em instituições de ensino superior privadas nos cursos de graduação, para aqueles que não têm diploma de nível superior. A curto e médio prazo, o PROUNI é bastante benéfico para a sociedade, pois aqueles que ingressam no ensino superior pelo programa, geralmente, são de baixa renda. Com isso, a qualificação destes diminui consideravelmente a desigualdade social, a economia do país cresce, a taxa de desemprego diminui, enfim, o país sai do subdesenvolvimento e torna-se um país desenvolvido de forma justa e igualitária. Porém, com investimentos paralelos do governo federal na educação de base e nas universidades públicas, futuramente não será mais necessário o investimento do governo federal no ensino privado. Sendo assim, a longo prazo, o PROUNI pode trazer sérios danos ao país, uma vez que os investimentos destinados às instituições privadas poderiam ser destinados às instituições públicas, qualificando professores, construindo novas universidades públicas, criando mais vagas e melhorando a infraestrutura daquelas que já existem.


Outro programa de incentivo ao ingresso no ensino superior é o FIES (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior). Criado pelo Governo FHC em 1999, este programa é destinado a financiar a graduação no ensino superior de estudantes que não tem condições de arcar com os custos da mesma. O FIES sofreu duras críticas na sua implementação por ter taxas abusivas de juros que poderiam chegar até 9% ao ano, por ter carência para sua implementação, bem como pela falta de transparência da Caixa Econômica, acusado de cobrar juros sobre juros desde o período que o financiamento é concedido até o momento em que o aluno começa a pagar o que praticamente dobra ou triplica o valor do financiamento, como afirma o Movimento FIES Justo, movimento Nacional que luta por aplicações mais justas no financiamento estudantil. Com o novo FIES, implementado em 2010 pelo Ministro da Educação Fernando Haddad, o programa se tornou um dos melhores meios de financiamento estudantil do mundo, pois além da taxa de juros cair para 3,4% ao ano, o estudante poderá requerer o FIES a qualquer momento, as parcelas de financiamento terão valores fixos, o período de pagamento poderá ser de até 3 vezes a duração do curso mais 12 meses, dentre outros benefícios. Apesar dos avanços o estudante ainda enfrenta problemas para se cadastrar no FIES, pois é necessário que o fiador receba um salário que equivale ao dobro da mensalidade (ex: a mensalidade custa R$ 800, portanto meu fiador terá que receber no mínimo R$ 1600), o que é inconcebível para um programa que visa a inclusão social, já que, segundo dados do Dieese, 95% da população brasileira ganha até R$ 900.


Portanto concluir que a vida dos estudantes de instituições privadas melhorou de forma significativa nos últimos sete anos de governo Lula, porém é preciso reformular e ampliar esses programas para maioria das pessoas que sonham em ingressar no ensino superior, para que possam alcançar uma melhoria de vida. É preciso também uma maior fiscalização do MEC nas instituições, uma vez que estas desrespeitam as diretrizes estabelecidas pelo próprio órgão, e sobretudo é preciso que os estudantes saibam e exijam seus direitos, e se unam em prol de melhorias para eles próprios.


David Pedreira Machado é estudante de Direito da Faculdade Unime, diretor do DCE/UNIME, membro do coletivo Ousar ser Diferente e militante do PT-BA

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Serra confunde programas e não explica privatizações

O primeiro debate entre os presidenciáveis teve, entre suas principais marcas, o desconhecimento revelado por José Serra (PSDB) sobre o programa Luz para Todos e sobre ações do Ministério da Educação para a alfabetização de crianças excepcionais.

Provocado por Dilma Rousseff (PT) a avaliar os investimentos na indústria naval e os benefícios do Luz para Todos, Serra perguntou duas vezes o nome do programa que está garantindo energia elétrica à população pobre da zona rural. Informado do que se tratava, disse que a iniciativa do Governo Lula era uma continuação do programa Luz no Campo, do Governo Fernando Henrique Cardoso, que levou iluminação a “umas 500.000 famílias”. Dilma o corrigiu:

“O Luz para Todos é completamente diferente do Luz no Campo, que exigia que os beneficiários do programa pagassem pela iluminação. Por isso, só conseguiram beneficiar 500.000 famílias em 8 anos”, afirmou Dilma, que mostrou o que fez o governo atual.

“Quando chegamos, o déficit de pessoas sem energia elétrica era de 2 milhões, e agora esse número foi atingido.”

O segundo engano de Serra foi quando insinuou que as Associações dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAES) perderam subsídios que o Ministério da Educação dava para o transporte das crianças à escola. Dilma explicou que os recursos da APAE não foram cancelados, mas passaram a ser distribuídos pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).

PRIVATIZAÇÕES

Ao comentar como trataria o patrimônio público, Serra evitou detalhar o que fará.

“Vou valorizar o patrimônio público, usando-o bem”, limitou-se a dizer. Em seguida, afirmou que, apesar das críticas às privatizações do Governo FHC, nada foi reestatizado no Governo Lula.

“É porque nós respeitamos contratos”, respondeu Dilma, que questionou o tucano sobre outro aspecto do processo de privatizações.

“Não entendo como pode alguém obter R$ 100 bilhões pela venda do patrimônio público e deixar crescer a dívida pública – de R$ 30 bilhões para R$ 70 bilhões. Como pode essa mágica financeira?” questionou a petista. Serra não respondeu.

EMPREGOS

Dilma também questionou Serra sobre a forma que ele usaria, se fosse eleito, para assegurar a criação de 14 milhões de empregos com carteira assinada, como ocorreu durante o Governo Lula.

“Não faço política olhando no retrovisor”, esquivou-se Serra.

“Não acho prudente que se esqueça o passado”, devolveu a petista acrescentando que o crescimento do emprego se tornou possível, principalmente, pela forte atuação do governo em programas de inclusão social, como o Bolsa Família.

SAÚDE

Outro ponto de divergência entre Serra e Dilma foi a realização de mutirões da saúde. Para o tucano, são fundamentais. Já Dilma ponderou que eles constituem uma medida de emergência.

“Mutirão não pode ser nossa característica na política de saúde”, disse Dilma, que citou a ampliação das cirurgias eletivas de catarata na rede pública de saúde. A presidenciável petista também prometeu investir fortemente no Sistema Único de Saúde (SUS) como forma de acrescentar rapidez e qualidade à rede pública.

INDÚSTRIA NAVAL

O próprio Serra elogiou o estímulo oferecido pelo Governo Lula à indústria naval, mas pediu mais investimentos. Foi quando Dilma lembrou que o setor estava sucateado e que “a política do governo anterior pra indústria naval era sondar navios de Cingapura e Coréia, em vez de privilegiar a indústria nacional”.


Via: Brasilia Confidencial

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Serra e Índio: qual o apito?

Ao afirmar que “o PT é chavista, que mantém relação com as Farc, e prima por desrespeitar direitos humanos”, Serra incorporou a visão de mundo da nova direita. Um estrato que, ameaçado pela abrangente emergência social promovida nos últimos oito anos, destila raiva e ressentimento.

E finalmente descortinou-se – sob os estarrecidos olhares dos eternos ingênuos – a verdade que todos, há muito tempo, já conheciam. A fluidez do processo político brasileiro, suas clivagens e crises que podem decorrer da percepção de resultados eleitorais adversos, levaram o candidato José Serra a revelar sua verdadeira natureza de classe. Reativando um surrado discurso udenista, o ex-presidente da UNE passou a endossar o protofascismo de sua base de sustentação. Mais que assegurar a adesão de eleitores da direita, pôs por terra uma tese que ganhava espaço na grande mídia e em conhecidos círculos acadêmicos.

A caracterização simplória do cenário político definia as próximas eleições mais como uma disputa por espaço eleitoral do que como polarização ideológica de projeto de país. Ressurgia, com endosso de algumas lideranças esquerdistas, a visão dos dois partidos hegemônicos (PT e PSDB) como agrupamentos politicamente inautênticos, sem verdadeiras raízes na estrutura social e sem diferenciação ideológicas nítida. A distinção se daria apenas na maior ou menor capacidade de conseguir recursos, ganhos incrementais que ignoram modificações substantivas nos programas públicos. Nada mais falacioso. Nada mais revelador da fragilidade analítica dos que vêem no governo Lula uma continuidade pura e simples da gestão FHC. As sobejas dificuldades do candidato da direita, sua necessidade de marcar posição, desmentiram os estudos de encomenda.

Ao afirmar que “o PT é chavista, que mantém relação com as Farc, e prima por desrespeitar direitos humanos”, Serra incorporou a visão de mundo da nova direita. Um estrato que, ameaçado pela abrangente emergência social promovida nos últimos oito anos, destila raiva e ressentimento; típicos da intolerância retórica que o distingue. Impossibilitada de construir sua identidade pela inserção no processo produtivo, essa parcela da classe média forja a auto-imagem por diferenciação das classes fundamentais. Sabe que não é o que mira, mas não sobrevive sem o sentimento subjetivo de pertencer a uma elite idealizada. É nesse aspecto da nossa estrutura social que Índio e Serra passam a querer o mesmo apito. E a falar o mesmo dialeto.

As diatribes recentes do candidato tucano têm uma imensa serventia para os setores progressistas. Ao criticar as relações do governo petista com países sul-americanos e com a China, assegurando que “estamos fazendo filantropia com Paraguai e Uruguai e concessões excessivas ao país asiático”, Serra sinaliza que, no caso de uma eventual vitória em outubro, retomaria a política externa de subalternidade aos interesses estadunidenses. A volta da "diplomacia de pé de meia” não é uma questão menor nem uma mudança de rota desprezível.

A própria capacidade de o país de decidir soberanamente sobre seus destinos estará novamente em jogo. A orientação tendente a beneficiar o diálogo com os países vizinhos, superando assimetrias e promovendo uma autêntica integração, para ter continuidade e ser aprofundada, não pode conviver com a submissão vergonhosa ao imperialismo. O que está em jogo, neste momento, é a verdadeira segurança nacional.

Os inimigos dos reais interesses do país, ao contrário do que pretende a oposição e seu braço midiático, não são os governos de Evo Morales e de Hugo Chávez, a quem Serra, repetindo Uribe, acusa de "abrigar as Farc". O que ameaça a nação brasileira é a humilhante prostração aos ditames de Washington. Em um país com instituições minimamente democráticas, Serra e seu vice têm como lugar certo a lata de lixo da história.

Quanto mais nos aproximamos de outubro, aumenta a urgência de ampla mobilização dos trabalhadores e demais setores populares em defesa das suas conquistas sociais e econômicas, alcançadas nos dois mandatos do presidente Lula. É bom lembrar que não se deve esperar da nova direita, que sustenta Serra, uma análise serena de um governo popular. Para ela é imperdoável que tenha havido um período tão rico em cidadania, tão pródigo em participação nos debates sobre problemas nacionais.

Jonathan Swift escreveu, certa vez, que se pode identificar um gênio pelo número de imbecis que lhe atravancam o caminho. Se o criador de Gulliver tiver razão, Lula e sua candidata, a ex-ministra Dilma Roussef, têm excelentes títulos para exigir que lhes reconheçam a genialidade. Com inveja, com rancor, com incompreensão, mobiliza-se contra eles o que há de pior na sociedade brasileira. E ainda há quem não veja diferença entre os atores.


Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil

domingo, 1 de agosto de 2010

Serra é o candidato da direita perversa e burra

Quem vai perder?

Márcia Denser, no Congresso em Foco

Ao que tudo indica – e todas as pesquisas apontam nesta direção – Dilma deve ganhar a disputa presidencial, até porque agora seu maior aliado eleitoral já não é o presidente Lula, mas o próprio candidato José Serra, cuja imagem e atitude truculentas por si mesmas têm sido mais do que suficientes para afugentar o eleitor, sem contar as gestões neoliberalíssimas de apoio exclusivo ao capital, tornando-o o maior responsável pelo franco declínio de sua campanha.

Serra personifica a chamada direita perversa e burra, a direita alucinada que acredita piamente se manter indefinidamente no poder sem fazer a mínima concessão às questões sociais e direitos humanos – ao lado humano mais que humano do ser humano que precisa trabalhar, comer, morar, respirar & outras coisas de somenos. E mais: promovendo a exclusão e eliminando literalmente qualquer oposição. Porque essa direita declarou guerra ao ser humano. Serra, que encarna esta direita, reduz sua campanha a um “duelo de competências”. Esquecendo-se que presidente não é gerente, país não é supermercado e população não se demite. Exclui. Apaga. Deleta.

Na pesquisa Datafolha, divulgada em 26/7, que coincide com o Vox Populi precisamente nas declarações espontâneas de voto, imunes às distorções de abordagem e amostragem, vemos que Dilma lidera, como segue:
- Datafolha, espontânea (na sua opinião, quem vai ganhar as eleições para presidente da república em outubro?): Dilma 21% X Serra 16% (diferença de cinco pontos);
- Vox Populi, espontânea: Dilma 28% X Serra 21% (diferença de sete pontos).
Nas respostas espontâneas colhidas pelo Datafolha, 4% ainda declaram voto em Lula e outros 4% mencionam ‘no candidato do Lula’ e ‘no candidato do PT’. Um universo de 8 pontos que deve transitar majoritariamente para a candidatura Dilma, graças à maior exposição da ex-ministra ao lado de Lula na propaganda eleitoral gratuita. Pois, como vimos, em questões de imagem, Serra perde feio.

A gota d’água foi o vice. Em São Paulo se ouve por toda parte: “No Serra, eu não voto. Deus me livre, já imaginou se o sujeito pifa e esse Índio vira presidente do Brasil?”.

O fato é que, ao acolher como vice o deputado Índio da Costa (DEM-RJ), inexperiente, inexpressivo, um ilustríssimo desconhecido para o resto do país, parece que Serra esqueceu completamente o eleitor.

Por quê? Entre outras razões, porque, no Brasil, a possibilidade do vice-presidente assumir o mandato presidencial não é algo remoto, mas um evento perfeitamente possível de ocorrer e a qualquer momento, pois nossa memória política recente ainda registra que Sarney, vice de Tancredo, foi presidente durante cinco anos, de 1985 a 1990, e Itamar Franco, vice de Collor, arriado do poder em 1992, exerceu o mandato até 1995. Sem entrar no mérito de um ou outro, constata-se apenas o fato. Sem contar que o próprio Serra, campeão de alpinismo eleitoral, não costuma terminar mandatos para os quais é eleito, nem jurando de pé junto e registrando em cartório. Se a questão é competência para governar o Brasil, referido vice teria alguma?

Serra não é exatamente o pós-lula, é um retro-FHC. Ou Zé Pedágio, como é chamado “carinhosamente pelos” paulistas. E agora já não estamos mais nos referindo à imagem mas à sua peculiar competência – que ele pretende estender para todo o país e por um bom tempo.

Sob as gestões do PSDB de Serra, Sampa ganha um novo pedágio a cada 40 dias.

Desde o início da privatização das rodovias de São Paulo, em 1998, foram instalados 112 pedágios nas estradas paulistas, estado que já tem mais pedágios do que todo o resto do Brasil. Segundo a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias, são 160 pontos de cobrança em vias estaduais e federais no território paulista, contra 113 no restante do país. Em resumo, fica mais barato viajar para outro estado do que dentro do próprio. Cruzar de automóvel os 404 km entre a capital paulista e Curitiba, PR, custa R$ 9 em tarifas, mas para cobrir a mesma distância até, digamos,Catanduva, paga-se R$ 46,70.

No entanto, tocar publicamente neste assunto já custou o emprego de dois conhecidos jornalistas da TV Cultura, Heródoto Barbeiro e Gabriel Priolli, quando no Roda-Viva questionaram Serra sobre os pedágios abusivos cobrados nas rodovias privatizadas de Sampa.

Mas essa privatização generalizada da vida (por que não terceirizar a primeira missa, nos dias úteis?) me lembra um refinado monólogo escrito por Roberto Schwarz (1) na primeira pessoa dum futuro dono de pinguela, com pedágio para pedestres, do qual extraio alguns trechos : “Há coisa mais poética do que um casal que compra uma ponte?… Que raiva me dá quando vejo as pessoas respirando de graça! Retrocesso não é comigo, vou me defender da inadimplência dos despossuídos. Não sei se quero a pinguela (o pedágio), que vai me dar uma porcaria por não sei quanto tempo, o qual tratarei de prolongar ao máximo, à bala ou como for possível, depois do que não fico no país nem um minuto mais!.”

(1) In Seqüências Brasileiras, pg. 239. S.Paulo, Cia das Letras, 1999