Se eu fosse um destes economistas que gosta de falar difícil para que não duvidem do que diz, diria que política se analisa com uma visão “holística”. Mas, como eu procuro usar as palavras para revelar, não para esconder o que penso, queria dividir com vocês uma série de sintomas, colhidos daqui e dali.
Na Folha de hoje, a reunião do alto tucanato se deu sob a presidência do ex-”escondam ele” Fernando Henrique Cardoso. Lá, concluiram que “Serra deveria dedicar mais atenção aos aliados e à montagem de palanques, em vez de desperdiçar energia com a rotina da campanha”.
Tradução, se me permitem: há uma crise de apoio e sinais de debandada. “Desperdiçar energia com a rotina da campanha” eu deixo para a avaliação de vocês.
Os palanques regionais de Serra estão esvaziando. Vão se desfazendo, ao vento do crescimento de Dilma, as ilusões de cooptar partidos da base aliada de Lula para apoiarem o tucano.
O tucanato deve ao Datafolha uma certa trégua que tiveram com o misterioso aumento da diferença entre Dilma e Serra “apurado” pelo Datafolha. Mas não deu mais pra segurar, como é difícil que o Ibope, encomendado pela Globo, possa fazer o mesmo. Afinal, o instituto acaba de ter divulgadas duas pesquisas no segundo e terceiro maiores colégios eleitorais do país, Minas e Rio de Janeiro, e em ambos houve um expressivo crescimento de Dilma sobre Serra.
Como explicar que não se repita isto em outros estados? Serra não tem mais de onde tirar em São Paulo. Ao contrário, ali tem muito a perder.
Ao mesmo tempo, está difícil prosseguir com a argumentação golpista que tenta levar a uma “solução” jurídica para a derrota eleitoral que se desenha. A condição pública de favorita de Dilma e as transgressões escandalosas de Serra à legislação – embora não tenham, ainda, encontrado a devida reação do Ministério Público – sinalizam isso.
E o próprio Lula sabe que já não precisa, como dizem lá no Sul, “meter o peito na correnteza” para que a onda Dilma se espalhe e encorpe.
Nada disso o que digo, porém, é motivo para esmorecermos e muito menos quer dizer que não virão aí armações ilimitadas.
Nada de baixar a guarda, nada de “correr pro abraço” ou de agir como alguns setores políticos convencionais, “disputando espaço” e prejudicando a campanha.
A situação de Serra, hoje, é como a daqueles times de futebol que já não dependem dos seus próprios resultados para se classificar. Precisam, indispensavelmente, do tropeço alheio.
É nosso dever não tropeçar nem na ingenuidade nem na soberba.
A hidra tem sete cabeças.
Via: Tijolaço
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